Tribos de Falluja tentam negociar saída da Al-Qaeda e evitar ofensiva do Governo iraquiano

Maliki não foi capaz de fazer sentir aos árabes sunitas que também é o seu líder. Os extremistas estrangeiros no país não perderam a oportunidade.

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Checkpoint erguido pelo Exército a ocidente de Bagdad, no caminho para Anbar Ali al-Saadi/AFP

Para tentar evitar uma batalha sangrenta, que para vários analistas podia significar o reacender da guerra civil entre xiitas e sunitas, Maliki apelou à população e aos líderes tribais para expulsarem de Falluja os membros do Estado Islâmico no Iraque e no Levante (ISIS), o principal rosto da Al-Qaeda no Iraque e na Síria. <_o3a_p>

Como tem acontecido na última semana, as informações são confusas e contraditórias. <_o3a_p>

Um xeque ouvido pela AFP, Ali al-Hammad, garantia esta segunda-feira à tarde que Falluja estava livre do ISIS. “Eles partiram todos. Os homens armados cá dentro são filhos das tribos e estão posicionados para defender a cidade.” Habitantes que falaram à mesma agência asseguravam que os combatentes do ISIS continuam à vista, tendo no entanto feito baixar as suas bandeiras negras “para evitar serem visados por ataques”. Outro líder tribal disse à Reuters que estava a ser preparado um encontro para a noite “com alguns guerrilheiros da Al-Qaeda”. “Vamos tentar convencê-los a deixar a cidade e privar Maliki de um pretexto para mandar o Exército.”<_o3a_p>

O que se sabe é que a ordem de Maliki para desmantelar à força um acampamento de protesto contra o Governo em Ramadi, capital da província de Anbar, a mesma de Falluja, desencadeou combates entre homens armados da região e forças governamentais. A antiga Al-Qaeda no Iraque, transformada entretanto no ISIS e reforçada no país por via da guerra síria, aproveitou e na sexta-feira expulsou a polícia, tomou esquadras e edifícios governamentais e declarou Falluja um “Estado islâmico”. <_o3a_p>

O Governo desapareceu da cidade, enquanto em Ramadi há confrontos e o ISIS controla alguns bairros. Ao contrário do que aconteceu na capital da província, onde as milícias tribais inicialmente formadas pelos EUA para combater os extremistas estrangeiros, se puseram ao lado das forças de segurança, em Falluja, parte destes combatentes locais terão apoiado o ISIS.

<_o3a_p>Xiitas e sunitas<_o3a_p>

Nos últimos três dias, os combates na zona fizeram mais de 200 mortos. No domingo, o Exército anunciou que estava a cercar Falluja e se preparava para lançar uma ofensiva. Ao mesmo tempo, milhares de civis deixaram a cidade, onde o ISIS cortou a electricidade, com o que podiam.<_o3a_p>

“O primeiro-ministro apela às tribos e às pessoas de Falluja para expulsarem os terroristas da cidade e assim se pouparem ao risco de um confronto armado”, fez saber Maliki num comunicado lido na televisão estatal. <_o3a_p>

Com ou sem ISIS, cujo objectivo é criar um Estado regional, Maliki e os seus soldados, a maioria árabes xiitas, não são bem-vindos em Anbar. <_o3a_p>

No início de 2011, enquanto na Tunísia e no Egipto se derrubavam ditadores, nascia no Iraque um movimento de protesto diferente, com muitos jovens que pediam menos corrupção e mais liberdade. O Governo reagiu com espancamentos e detenções arbitrárias. Em Anbar, esse movimento misturou-se com os protestos dos que sentem permanentemente injustiçados e marginalizados face às novas autoridades xiitas. A enorme província, deserto na sua maioria, que termina na fronteira síria é habitada por árabes sunitas, a corrente do islão seguida e protegida por Saddam Hussein.<_o3a_p>

Maliki fez prender vários líderes políticos árabes sunitas nos últimos anos. Depois do vice-presidente, Tariq al-Hashemi (em fuga), e do ex-ministro das Finanças, Rafi al-Issawi, deteve a semana passada o deputado sunita Ahmed al-Alwani, que tentava negociar uma solução entre os manifestantes e o Governo.

<_o3a_p>Solução política<_o3a_p>

Não é possível expulsar o ISIS militarmente e recuperar Anbar – será sempre preciso uma solução política, algo que o autoritário líder xiita dificilmente será capaz de fazer. Não é só Anbar, escreve a analista norte-americana Marina Ottaway, investigadora do Woodrow Wilson Center. Várias províncias, incluindo algumas de maioria xiita, têm batalhado com Bagdad para obterem uma autonomia orçamental idêntica à do Curdistão iraquiano. A Constituição prevê essa possibilidade mas o Governo tem bloqueado todas as iniciativas nesse sentido.<_o3a_p>

“O resultado não é apenas raiva por parte dos conselhos de província mas também um grave desinvestimento no orçamento da maioria das províncias. A par da falta de segurança, esta situação resultou numa reconstrução dolorosamente lenta, mesmo quando os lucros do petróleo crescem”, escreve Ottaway num artigo publicado no site da BBC.<_o3a_p>

Por isso, mais do que pela reforçada presença da Al-Qaeda, é que alguns temem o regresso dos piores anos da ocupação norte-americana. “Os próximos dias vão determinar o futuro do Iraque”, defende o politólogo iraquiano Ihsan al-Shammari, à conversa com a AFP em Bagdad. “O país está numa encruzilhada: ou avança para a reconciliação num Estado democrático ou rebenta no caos total e na guerra civil.”<_o3a_p>

O que grupos como o ISIS fazem melhor é aproveitar as oportunidades. Na Síria, os rebeldes já perceberam que têm de ser eles próprios a combater os extremistas antes de se poderem concentrar de novo na luta contra o regime de Bashar al-Assad. <_o3a_p>

No imediato, a sorte do Iraque pode ser uma mistura de paciência do Governo com determinação das populações de Falluja. Ao mesmo tempo que a oposição síria pressiona o ISIS do outro lado da fronteira.<_o3a_p>
 

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