Tio de Kim Jong-un protagoniza a expulsão mais mediática de sempre na Coreia do Norte
Ampla divulgação das imagens da prisão do poderoso tio do Presidente foge à política de sigilo da Coreia do Norte. Kim Jong-un quer levar a cabo renovação da cúpula do regime.
Na base da expulsão daquela que era uma das principais figuras do regime norte-coreano estão acusações de abuso de poder, corrupção, utilização de drogas e actividades facciosas, tais como “sonhar sonhos diferentes e traição”, escreve a agência noticiosa. “Afectado pelo modo de vida capitalista, Jang cometeu irregularidades e corrupção, levando uma vida devassa e depravada”, explica a KCNA.
Na semana passada, já eram públicos os rumores de que Jang estivesse em vias de ser afastado do poder pelo próprio sobrinho.
Menos de dois anos depois de ter chegado ao poder, esta não é a primeira personalidade influente do país afastada por Kim Jong-un. No ano passado, Rim Yong Ho, considerado mentor do actual líder, foi removido de uma alta posição militar devido a questões de saúde.
O afastamento do tio de Kim Jong-un foi altamente noticiado pelos meios de comunicação estatais, algo que não é comum na Coreia do Norte. A televisão pública revelou fotografias em que se via o tio do líder norte-coreano a ser levado à força de uma reunião pela polícia e a primeira página do jornal oficial Rodong Sinmun era totalmente dedicada a Jang.
Jang Song Thaek é casado com uma das filhas do fundador do regime norte-coreano, Kim Il-sung, e foi um dos principais responsáveis pela preparação de Kim Jong-un para a sucessão. Segundo alguns observadores, Jang era um dos principais dinamizadores de reformas económicas ao estilo da China.
O que se segue para o ex-dirigente é incerto. “Acredito que, por causa dos seus laços matrimoniais, ele seja colocado em prisão domiciliária, mas os seus ajudantes e confidentes podem não ter tanta sorte”, prevê Daniel Pinkston, vice-director para o Nordeste Asiático do International Crisis Group.
Estratégia de liderança
A expulsão de Jang “é a desgraça mais proeminente de um responsável na História da Coreia do Norte”, observa Andrei Lankov, professor da Universidade de Kookmin, citado pelo The Guardian. “As purgas no passado raramente tocavam nos membros da família. O único precedente de que me recordo foi em meados dos anos 1970, quando o irmão de Kim Il-sung foi afastado”, relembra Lankov.
A purga, segundo o especialista, “diz-nos algo sobre o novo estilo de liderança: o jovem parece bastante duro e brutal, quando lida com pessoas que quer destruir”.
“Acredito que [a decisão] mostra que Kim Jong-un controla firmemente a situação e está confiante o suficiente para afastar até oficiais graduados”, notou o especialista em assuntos asiáticos do think-tank Heritage Foundation, Bruce Klinger, citado pela AP.
A estratégia do novo líder parece passar por uma substituição gradual da elite dirigente anterior por uma geração mais nova e, à partida, mais leal ao Presidente. “É tempo para uma geração mais nova. Kim tem uma oportunidade e, se for um líder prudente e pragmático, irá colocar pessoas que lhe são leais”, realça Daniel Pinkston. “Jang tinha coisas a fazer pela família Kim, mas, se deixou de ser necessário, porquê mantê-lo por perto? É a economia política da ditadura.”