Thatcher não queria um funeral de Estado

Cerimónia vai realizar-se na próxima quarta-feira, dia 17, na Catedral de São Paulo, mas apoiantes da antiga primeira-ministra criticam decisão de não conceder distinção máxima à “Dama de Ferro”.

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Mesmo na morte, Margaret Thatcher continua a gerar polémica Bobby Yip/Reuters

“Parecerá e será visto como um funeral de Estado em todos os aspectos”, disse ao jornal Guardian uma fonte do Governo britânico, recordando que as cerimónias serão idênticas às realizadas aquando da morte da princesa Diana, em 1997, e a rainha-mãe, em 2002.

A rainha Isabel II e o duque de Edimburgo já confirmaram a presença no funeral, que será realizado na Catedral de São Paulo, noticiou a BBC. E o Governo britânico anunciou que os detalhes da cerimónia foram discutidos entre os filhos da antiga primeira-ministra e o Palácio de Buckingham.

Mal foi conhecida a morte de Thatcher – em resultado de um acidente vascular cerebral, na manhã de segunda-feira –, especulou-se se teria direito à mesma distinção atribuída pela rainha Isabel II ao antigo primeiro-ministro Winston Churchill. O funeral de Estado está reservado aos monarcas, mas a excepção aberta em 1965 criou um precedente que muitos acreditavam que voltaria a ser aberto agora.

O Guardian noticia, porém, que a ideia terá sido recusada pela própria Thatcher quando o assunto lhe foi mencionado há alguns anos. Segundo fontes ouvidas pelo diário, a antiga primeira-ministra previa que a sugestão iria criar um aceso debate no Parlamento, que teria de aprovar o financiamento público para a ocasião. As reacções de muitos antigos opositores políticos e de vários deputados trabalhistas à sua morte, sublinhando os custos sociais e as fracturas que gerou durante os seus anos de poder, provam que os receios eram fundados.

O jornal refere também que Thatcher não pretendia que o seu corpo ficasse em câmara-ardente num local público, como é habitual nos funerais de Estado.

Apoiantes desiludidos
Mas a notícia de que a “Dama de Ferro” não terá direito à distinção máxima no momento da sua morte indignou muitos dos seus apoiantes, e dois tablóides de direita lançaram mesmo petições para que a decisão seja corrigida. “Os aliados da maior primeira-ministra em tempos de paz mostram-se ontem à noite desapontados com o facto de ela não ter direito a um funeral de Estado”, escreveu o Daily Mail, numa crítica implícita ao primeiro-ministro conservador, David Cameron.

O colunista do jornal Simon Heffner desvaloriza as explicações dos que sublinham as poucas diferenças entre as duas cerimónias, escrevendo que “a verdade é que Lady Thatcher não terá direito a uma parada final porque tomou decisões dolorosas, mas necessárias, que mudaram o centro de gravidade no Reino Unido, e a esquerda nunca lhe perdoará que ela lhe tenha mostrado que estava errada”.

Daquele lado do espectro político surgem, aos poucos, balanços mais duros do thatcherismo. Anne Scargill, mulher do líder do sindicato de mineiros Arthur Scargill, que enfrentou Thatcher durante as greves de 1984 e 1985, disse à televisão britânica ITV não poder esconder a “felicidade” com o desaparecimento de uma mulher que “provocou tanta revolta e sofrimento”.

“Olho para as nossas comunidades e o que vejo? Ela fechou tudo. Encerrou a nossa indústria. Fechou as nossas minas. Quis esmagar os sindicatos e esmagou o país. Chamou-nos 'inimigo interno'. Mas havia apenas um inimigo interno, e era ela”. 

Prova dos ressentimentos que subsistem, na mesma altura em que se sucediam tributos à antiga primeira-ministra, na noite de segunda-feira houve em algumas zonas festejos pela sua morte, incluindo nas zonas republicanas da Irlanda do Norte, nos bastiões trabalhistas da Escócia e em Britxon, palco, em 1981, de violentos motins em Londres. Ontem, houve algumas escaramuças entre a polícia e moradores naquele bairro londrino, e na cidade de Bristol seis polícias ficaram feridos em incidentes semelhantes.

Notícia corrigida às 14h17. Corrige-se data da morte de Winston Churchill, em 1965.
 

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