Texas executa homem de 67 anos, 32 passados no corredor da morte

Bower insistiu na inocência até ao fim. Seis vezes tinha visto execução adiada no último momento. Em Março, três juízes do Supremo tiveram dúvidas e admitiram erros “gritantes” neste caso.

Foto
Lester Bower REUTERS/Texas Department of Criminal Justice

Três décadas passaram com Bower e vários advogados a tentar adiar a execução, enquanto apresentavam recursos que questionavam a ausência de impressões digitais na cena do crime, a inexistência de testemunhas e o facto de a arma do crime nunca ter sido encontrada. Bower, vendedor de químicos e pai de duas crianças, não tinha antecedentes criminais.

“Muito foi dito sobre este caso. Muito foi escrito sobre este caso. Nem tudo do que foi dito e escrito é verdade. Mas o tempo para determinar a verdade acabou e chegou a altura de seguir em frente”, disse Bower antes de lhe começarem a injectar o cocktail de drogas que acabou com sua vida.

Horas antes, o Supremo Tribunal dos EUA rejeitara um recurso dos seus advogados. Ao longo dos 32 anos que passou encarcerado, Bower já estivera seis vezes à espera da morte certa e iminente. Em todas essas ocasiões, a execução foi adiada. Desta vez, não houve adiamento de última hora.

A acusação afirmou-se convicta de que Bower assassinou quatro homens num hangar de avionetas de Sherman, uma terra de ranchos e criação de gado a norte de Dallas. As vítimas eram Bob Tate, o ex-polícia Ronald Mayes, o adjunto do xerife Philip Good e o designer de interiores Jerry Brown.

A investigação concluiu que por trás do assassínio estaria um negócio de compra de um ultraleve que teria corrido mal. A teoria é que Bower matou Tate para roubar o avião que este estava a vender. Os outros três seriam vítimas de ocasião: terão aparecido no hangar e encontrado Bower a matar Tate.

As provas apresentadas incluíram partes do avião de Tate encontradas da casa de Bower e telefonemas que este lhe fizera. Bower, disseram os procuradores, não vendia só químicos, mas também vendia armas, tinha comprado uma para si e adquirira também munições semelhantes às que foram usadas no crime.

Bower admitiu ter comprado o ultraleve e insistiu que quando deixou o hangar os quatro homens ficaram lá, vivos. Mas nunca conseguiu provar a compra.

A recusa do recurso final aconteceu quatro meses depois do último adiamento. Na altura, os juízes aceitaram rever suspeitas de conduta imprópria por parte da acusação, erros judiciais e pronunciar-se sobre a longa duração da encarceração de Bower no mais activo corredor da morte dos Estados Unidos.

As consequências
Em Março, o Supremo acabou por recusar rever a condenação com a discordância de três juízes, Stephen Breyer, Ruth Bader Ginsburg e Sonia Sotomayor. “Reconheço que é raro intervirmos para corrigir um erro legal num caso específico. Mas o erro aqui é gritante e as consequências podem ser a morte”, escreveu então o juiz Breyer.

Numa entrevista publicada esta semana no jornal local Fort Worth Star-Telegram, Bower repetiu que não foi o autor destes assassínios e que foi condenado por engano. “Mais do que isso, sinto que tivemos um número bastante razoável de pessoas credíveis que apareceram a dizer que eu não cometi estes crimes”, afirmou.

A consequência da decisão do Supremo foi mesmo a morte de Bower, o oitavo prisioneiro a ser morto com injecção letal no Texas desde Janeiro deste ano. Desde 1976, quando o Supremo voltou a permitir a pena de morte, este estado já executou 526 pessoas.

Ao contrário de outros estados, o Texas ainda tem armazenado tiopentato de sódio, o fármaco que anestesia e coloca o condenado inconsciente, antes da administração dos dois outros componentes do cocktail – brometo de pancurónio para paralisar os músculos e cloreto de potássio para induzir paragem cardíaca e provocar a morte.

Noutros estados, as execuções estão paradas porque deixou de haver tiopentato de sódio no mercado. No seu lugar, começou a ser usado midazolam, uma benzodiapezina muito pouco testada e cujo uso esteve na origem de execuções longuíssimas e dolorosas no Oklahoma, Arizona e Ohio, sem a garantia de uma morte sem “punição cruel e pouco comum”, como obriga a Constituição.

O recurso a midazolam está a ser revisto pelo Supremo, num caso que começou em Abril e será decidido nas próximas semanas.

Sugerir correcção
Comentar