Tarragona acolhe a maior beatificação colectiva da história da Igreja espanhola
Cerimónia envolta em polémica visa homenagear 522 “mártires religiosos” mortos na Guerra Civil espanhola.
A Conferência Episcopal Espanhola (CEE) prevê que mais de 25 mil pessoas estejam no Complexo Educativo da cidade, onde trabalhadores estão a instalar o palco, as cadeiras e as torres para as várias televisões acreditadas para o evento.
O secretário-geral e porta-voz da CEE, Juan Antonio Martínez Caminho, disse na terça-feira que no “acto histórico” estarão presentes cerca de quatro mil parentes dos “mártires da perseguição religiosa do século XX em Espanha”, além de uma centena de bispos, 30 dos quais estrangeiros, e 1400 sacerdotes.
Defendida pela CEE, que insiste tratar-se de um acto religioso e não político, a cerimónia está a ser contestada por outros sectores da sociedade espanhola, que consideram que reabre feridas da Guerra Civil.
Jaume Pujol Balsells, arcebispo de Tarragona, insiste que será um “momento de paz, perdão e reconciliação” e não terá qualquer “conotação política e reivindicativa”.
O episcopado espanhol refere que quase todos os mártires (520) morreram durante a guerra e apenas dois religiosos antes, a 13 de Outubro de 1934, mas rejeita que sejam classificados como “mártires da Guerra Civil”.
“Eles não foram caídos de uma guerra, nem combatentes, nem estavam com as armas na mão. Estavam nos seus conventos, nas suas igrejas, nas suas casas, e foram procurá-los, ofereceu-se-lhes a liberdade se renegassem ao nome do senhor Jesus, morreram por não renegar a sua fé”, explica Caminho.
Opinião que não é consensual, tendo a organização Cristãs e Cristãos de Base de Madrid criticado a beatificação num artigo citado no jornalEl Pais, considerando o acto “sectário”.
Para este grupo, os bispos “ignoram os milhares e milhares de republicanos assassinados pelos franquistas e cujos restos seguem nas bermas dos caminhos ou em valas comuns nunca abertas”.
“Talvez aos olhos de Deus são mais justos uns que outros?”, refere, acusando a igreja de ter dado “apoio explícito” à ditadura “com que colaborou de forma decisiva desde os primeiros momentos do golpe de Estado”.
Acusam ainda a Cúria de uma “instrumentalização partidária dos mortos”, sugerindo à CEE que aproveite a celebração “para pedir perdão à cidadania” pelo seu papel “como impulsionadora” do conflito e pela “sua colaboração na morte ou assassinato de milhares de inocentes, oferecendo inclusive dados de suspeitos aos pelotões da morte”.
Diversas entidades, sindicatos, representantes do Partido Socialista da Catalunha e da Iniciativa Catalunha Verdes publicaram também um manifesto onde qualificam as beatificações como “um insulto à memória e à história”.
O episcopado anunciou que não permitirá a entrada no recinto de cartazes nem bandeiras, estando preparado um dispositivo de segurança no exterior.
Haverá protestos em Tarragona, incluindo um convocado pelo movimento 12 de Outubro contra “as conotações fascistas que representam as beatificações”.
Antecipa-se ainda a chegada à cidade de uma manifestação da extrema-direita convocada pela plataforma Espanha em Marcga, que é integrada, entre outros, pelas organizações extremistas e fascistas Falange, Nodo Patriota Espanhol, Aliança Nacional, Movimento Católico Espanhol e Democracia Nacional.