Golpe militar no Egipto: Morsi deposto e Constituição suspensa

General Sissi explicou, numa declaração ao país, que a Lei Fundamental, de teor islamista, vai ser mudada e que haverá novas eleições presidenciais.

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A chefia do Estado passa temporariamente para as mãos do presidente do Tribunal Constitucional, disse o general, e vai ser criado um governo de tecnocratas para gerir o país até ser eleito um novo Presidente.

A notícia da deposição de Morsi, que permanece em parte incerta, foi aplaudida pelas centenas de milhares de pessoas que, desde domingo, enchem a Praça Tahrir do Cairo. A seguir a Sissi falar, uma série de figuras públicas e políticas como o representante da oposição Mohammed El-Baradei, o patriarca copta ortodoxo Tawadros II e o grande imã Ahmed Al-Tayeb, da Al-Azhar, principal autoridade sunita do mundo, pediram aos egípcios para se manterem calmos.

A chamada "segunda revolução" - a primeira, há dois anos e meio, depôs Hosni Mubarak -, em curso desde o fim-de-semana, matou 16 pessoas, sobretudo em confrontos entre hostes pró e contra Morsi.

A meio da tarde terminara o ultimato de 48 horas que os militares tinham dado a Morsi para ouvir o povo nas ruas e aceitar mudar o rumo da governação no Egipto. No texto do ultimato os militares esclareciam que não pretendiam tomar o poder - o Egipto esteve, durante décadas, debaixo de ditaduras militares.

O general Sissi disse que o Presidente deposto não deu qualquer sinal de cedência ou de aceitação do diálogo; o paradeiro de Morsi, que abandonou no domingo o palácio presidencial, não foi revelado.

As tropas, apoiadas por veículos blindados, posicionaram-se durante a tarde junto do palácio presidencial e em redor dos principais ajuntamentos de apoiantes da Irmandade Muçulmana e de Mohamed Morsi. O repórter do New York Times que no local escreveu na sua conta Twitter que, nesse momento, "o golpe começou". Os militares também assumiram o controlo dos estúdios da televisão nacional e deram ordens aos funcionários não essenciais para deixarem o edifício.

Num discurso terça-feira à noite, Morsi afastara a possibilidade de se demitir. “Se o preço que devo pagar por defender a legitimidade é o meu sangue, estou disposto a pagá-lo pelo meu país”, disse o dirigente da Irmandade Muçulmana, num discurso em que responsabilizou “os rostos do antigo regime” – de Hosni Mubarak – pela crise que o país vive. Uma posição reafirmada já nesta quarta-feira pelo seu porta-voz: “É melhor um presidente morrer em pé como as árvores do que abrir caminho ao regresso da ditadura ao Egipto, da qual fomos salvos por Deus e a vontade do povo.

Mohamed Morsi foi acusado de ter iniciado um procesos de islamização do Egipto através da aprovação de uma nova Constituição. Concentrou na presidência uma série de poderes e suspendeu o Parlamento. A oposição denunciou também que no ano em que foi Presidente (foi eleito em eleições livres e conseguiu um pouco mais de 50% dos votos) decalcou formas de repressão do regime de Mubarak, como perseguição a opositores e uso de violência contra a população.

Na sua conta do Twitter, Morsi reagiu ao anuncio de Abdel Fattah al-Sissi. Denunciou um "golpe de Estado" que deve ser rejeitado pelos "egípcios livres". Um dos seus colaboradores que falou sob anonimato à AFP disse: "O que eles fizeram é ilegal e não têm autoridade para o fazer".
 
 
 

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