Enquanto a NATO arruma as malas, taliban multiplicam ataques

Rebeldes afegãos matam 21 pessoas em ataques dentro e fora de Cabul. Com o fim da missão de combate da NATO, mentalidade de cerco instala-se na capital.

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Há várias semanas que os taliban encontram formas de furar a segurança da capital afegã SHAH Marai/AFP

Pouco antes de confirmadas as duas baixas, as primeiras sofridas pela missão da NATO no Afeganistão (ISAF) desde o início do mês, o Presidente norte-americano dedicou parte do seu discurso semanal aos militares que na última década lutaram no país e congratulou-se com o “fim responsável” da missão iniciada no Outono de 2001. “Estou orgulhoso de lhes dar as boas-vindas”, afirmou Barack Obama.

A duas semanas do fim do mandato da NATO restam no Afeganistão pouco mais do que os cerca de 14 mil militares que vão permanecer no país ao abrigo do acordo de segurança bilateral assinado entre Washington e o novo Presidente afegão, Ashraf Ghani. Um pouco mais de dez mil serão norte-americanos – Itália, Alemanha e Turquia fornecem os restantes – e terão como principal missão treinar e aconselhar as forças de segurança afegãs. Obama autorizou, no entanto, a aviação a manter o apoio aéreo às operações do Exército afegão, nas quais os soldados americanos poderão ser chamados a intervir se a segurança da missão for posta em risco.

Na segunda-feira, as forças da NATO e dos EUA assinalaram o fim da missão de combate, numa cerimónia em que a bandeira da ISAF foi arreada do aeroporto internacional de Cabul, um dos últimos locais controlados pelas forças internacionais. Os aliados asseguram que os mais de 300 mil soldados e polícias afegãos treinados nos últimos anos serão capazes de manter os rebeldes longe dos grandes centros – o objectivo de erradicá-los foi há muito abandonado –, apesar da elevada taxa de deserção, os baixos salários e escasso treino de muitos dos novos recrutas. “Os rebeldes bateram em retirada e as forças nacionais afegãs estão a levar a luta ao inimigo”, assegurou o general Joseph Anderson, último comandante da ISAF, citado pelo jornal USA Today.

Mas os taliban teimam em desmenti-lo. Presentes em quase todas as províncias que rodeiam Cabul, os rebeldes continuam a encontrar formas de furar a fortificada segurança da capital afegã, onde nas últimas semanas lançaram uma nova vaga de ataques que obrigou o comandante da polícia local a pedir a demissão. Após alguns dias de interregno, um adolescente fez-se explodir quinta-feira no auditório de um colégio privado francês, no momento em que decorria uma peça de teatro para sensibilizar os alunos contra a violência. Um cidadão alemão morreu e outras 16 pessoas ficaram feridas.

Já neste sábado, os taliban reivindicaram os disparos que mataram um alto responsável do Supremo Tribunal afegão, quando este saía de casa, e um atentado suicida contra um autocarro que transportava soldados afegãos. A forte explosão, numa movimentada rua da capital, matou seis soldados e feriu outros dez, num ataque quase idêntico a outro registado dois dias antes.

Apesar de não ser inédita – em Janeiro os taliban atacaram um restaurante frequentado por estrangeiros, matando 21 pessoas, e dois meses depois executaram nove clientes de um dos hotéis mais protegidos da cidade – esta vaga está a contribuir para uma mentalidade de cerco em Cabul, escreve o New York Times. Além de coincidir com a retirada da NATO, os ataques acontecem numa altura de impasse político: Ghani e Abdullah Abdullah, que aceitou liderar o executivo no âmbito de um acordo para pôr fim à disputa em torno do resultados das presidenciais, tardam em entender-se sobre os nomes para os principais ministérios, incluindo do Interior e da Defesa.

Fora da capital, onde a insegurança é maior, os taliban mataram 12 afegãos que trabalhavam na desminagem de um campo próximo da antiga base britânica de Camp Bastion, na província de Helmand (Sul). Na noite anterior, uma bomba foi accionada à passagem de uma coluna militar junto à base aérea de Bagram, onde os EUA concentram as suas forças, matando dois soldados americanos. Desde Janeiro, morreram 65 soldados estrangeiros no país, um número muito distante de anos anteriores e que reflecte a progressiva saída de cena da NATO – em contrapartida, o Exército afegão registou no ano que agora termina perto de cinco mil baixas em combates e ataques, um número recorde desde 2001.

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