Tabaré Vázquez eleito Presidente do Uruguai

O médico oncologista de 74 anos, que integra a coligação Frente Ampla de esquerda, era o grande favorito. Recupera o cargo que ocupou entre 2005 e 2010 e entregou ao seu correlegionário José Mujica, que se tornou um dos políticos mais populares do mundo.

Foto
Tabaré Vázquez no comício de encerramento da campanha, no dia 27 de Novembro AFP/PABLO PORCIUNCULA

Aos 74 anos, o favorito Vázquez volta a ocupar o cargo que já exerceu entre 2005 e 2010 (a Constituição do país impede a reeleição). Recebe o poder, no próximo mês de Março, do seu correligionário da coligação de esquerda Frente Ampla, José “Pepe” Mujica, o ex-guerrilheiro que se tornou um dos políticos mais populares do país (e também no resto do mundo) – e agora se tornará senador.

A vitória de Tabaré Vázquez consolida a Frente Ampla como a força política dominante no país. Nas legislativas que coincidiram com a primeira volta da eleição presidencial, a coligação que congrega 27 diferentes partidos e movimentos políticos de esquerda obteve a sua terceira maioria parlamentar consecutiva. O Presidente eleito é classificado como um moderado, defensor de uma via mais social-democrata do que socialista.

A opção pela continuidade é explicada pelos analistas com a situação de estabilidade económica e social do Uruguai, graças a um crescimento superior a 4% que mantém o desemprego na casa dos 6% e torna possível o financiamento de programas de redução da pobreza (que desde 2002 caiu de 40% para 11%), e de acesso à educação, saúde e habitação de grande adesão popular.

“Tabaré receberá um país com as contas em ordem, a dívida sustentável e o grau de investimento estrangeiro bom, nos 5% do PIB. Mas a conjuntura internacional apresentará desafios”, alertou a directora do Instituto de Ciências Económicas da Universidade da República, Gabriela Mordecki, em declarações ao jornal brasileiro Folha de São Paulo.

No seu primeiro mandato, o Presidente agora eleito recuperou o país da crise e operou uma profunda reorganização económica, beneficiando das circunstâncias externas de alta do preço das matérias-primas (o Uruguai tornou-se um dos maiores exportadores de soja para a China, por exemplo). Desta vez, prometeu promover o investimento directo estrangeiro.

Apesar do saldo positivo das contas nacionais, nem tudo corre bem no país, onde a taxa de inflação ultrapassa os 8% e os índices de criminalidade estão em alta. A insegurança e o alto custo de vida foram apontados pelos eleitores como as suas principais preocupações durante a campanha eleitoral

Tratado pelos seus apoiantes apenas pelo primeiro nome, Tabaré, o novo Presidente do Uruguai é um self-made man, que na juventude conseguiu uma bolsa de estudo para tirar o curso de Medicina em Paris e agora dirige a mais importante clínica oncológica do país. A escolha da especialidade tem uma história: Vázquez dedicou os seus esforços à compreensão da doença que matou os seus pais.

Tabaré Vázquez deixou o palácio presidencial com uma elevada taxa de aprovação de mais de 70%, o que não quer dizer que o seu mandato tenha sido isento de controvérsias. Aliás, teve de defender-se de acusações de abuso do poder e nepotismo, depois de nomear o seu irmão Jorge para um cargo na presidência.

Na inevitável comparação com o actual chefe de Estado, o que mais salta à vista é a diferença do “estilo” pessoal: Tabaré é um homem de gostos requintados e caros, que frequenta locais luxuosos e sempre usufruiu de todos os benefícios inerentes ao cargo, ao passo que grande parte da simpatia mundial por Mujica se explica pela sua modéstia e humildade – o Presidente que nunca se quis mudar para o palácio de Montevideu, todos os meses distribui 90% do seu salário.

Mas também há diferenças ideológicas entre os dois: Vázquez sempre foi contra a legalização do aborto, do casamento de homossexuais ou da produção, venda e consumo de marijuana, três leis aprovadas por Mujica, confirmando as suas credenciais mais progressistas. Durante a campanha, o Presidente eleito esclareceu que não tinha mudado de opinião em relação a nenhum desses temas, mas também sublinhou que nada faria para revogar a legislação. “Antes de tudo, sou um legalista”, garantiu.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários