Direita de Nicolas Sarkozy vence eleições departamentais, PS castigado
Frente Nacional fica em segundo lugar, com um resultado abaixo das previsões das sondagens, mas Marine Le Pen sublinha que o resultado foi, ainda assim, mais alto que o das eleições europeias.
Sorriso rasgado durante todo o tempo que falou, Marine Le Pen fez uma análise dos resultados completamente pela positiva. “Sem implantação local prévia, a FN conseguiu ultrapassar numa eleição local o resultado das europeias”, com 26%. Estará presente em perto de metade dos departamentos na segunda volta destas eleições, no próximo domingo, e quando estavam contados 1525 dos 2054 cantões, era já certo que estaria presente em 230 triangulares. Em alguns departamentos, como Gard, o Var e o Nord, obteve muito mais de 30% dos votos.
Só a “falta de notoriedade dos candidatos” da FN, muitos deles estreantes na política, travaram o sucesso total da FN disse ao Le Monde. “A maior parte dos nossos candidatos é desconhecida. Mas não tenho nenhum motivo para estar desapontada esta noite”, continuou Le Pen.
Mas estas eleições departamentais foram antes de mais sinal de um forte castigo para os socialistas no Governo, cuja votação rondou os 20%. O primeiro-ministro Manuel Valls, que se assumiu como o líder da campanha do Partido Socialista, tentando com palavras fortes e de grande dramatismo acordar os espíritos do “torpor” em que se deixaram cair, foi o primeiro líder a falar após o fecho das urnas. Defendeu o resultado socialista como “honrado”, e apelou à “frente republicana” contra a Frente Nacional, ou seja, ao voto na UMP na segunda volta, se o candidato da esquerda não for apurado, e a disputa for entre o partido de Sarkozy e a FN: “Apelo a todos os republicanos para que façam barreira contra a extrema-direita na segunda-volta”.
Com uma mal disfarçada gargalhada na voz, Marine Le Pen desprezou este apelo de Valls, “que mal foram conhecidas as primeiras projecções, apelou a votar na UMP.” A frente republicana é uma tradição da esquerda, que ganhou enorme protagonismo depois de o ex-primeiro-ministro socialista Lionel Jospin ter sido eliminado na primeira-volta das presidenciais de 2002 por Jean-Marie Le Pen, o pai de Marine Le Pen. A FN não pode beneficiar deste tipo de apoios na segunda volta – raramente algum dos vários pequenos partidos soberanistas e mesmo de extrema-direita franceses darão indicações de voto viáveis para votar na FN.
Gerir o "ni-ni"
Com cerca de 30%, a UMP de Nicolas Sarkozy, o centro-direita tradicional, que era dado como o vencedor à segunda volta, conseguiu a vitória já na primeira. Isto terá permitido ao ex-Presidente respirar fundo, que enfrenta a tarefa de reconstruir um partido falido e profundamente dividido – entre os que defendem uma estratégia de posicionamento ao centro e os que, como Sarkozy, pretendem colocar-se mais à direita.
O objectivo de Sarkozy é captar um eleitorado que perfilha cada vez mais as ideias anti-imigração e pró-autoridade da FN, embora rejeite o programa económico de Le Pen (que preconiza a saída do euro e da União Europeia, algo que só uma minoria dos franceses aceita). Em lugar das ideias económicas irrealistas da FN, Sarkozy, cujo objectivo é voltar a ser Presidente da República nas eleições de 2017, espera que os eleitores vejam de novo nele uma mensagem de futuro, como quando em 2007 o elegeram para o Eliseu, quando se apresentou como “candidato do poder de compra”.
A UMP não fará frente republicana como a esquerda, votando nos candidatos da esquerda, se estes estiverem melhor. Sarkozy confirmou este “ni-ni” (nem direita nem esquerda), e fez um apelo aos eleitores da FN: “Entendo a vossa exasperação. Mas esse partido, que tem o mesmo programa que extrema-esquerda, que festejou a chegada da extrema-esquerda ao poder na Grécia, não trará nenhuma solução aos franceses”, declarou.
Sarkozy tem de gerir um equilíbrio difícil: não perder eleitores mais à direita, nem os que estão mais centro, e que prefeririam vê-lo dar uma indicação de voto nos candidatos de esquerda em perigo por causa da FN. Sinal de que é difícil andar nessa corda-bomba: o pequeno partido do centro União de Democratas e Independentes, que concorreu aliado à UMP na primeira volta, anunciou que não fará “ni-ni” na segunda. Estará com a frente republicana da esquerda contra os candidatos da FN.
A incógnita, agora, é como é que o partido de Marine Le Pen conseguirá sobreviver à segunda volta – até agora, estas não têm sido favoráveis à FN. Ela quer ganhar visibilidade, e aumentar a sua implantação no terreno, no poder local, porque também tem o Eliseu como alvo, e já em 2017.