Separatistas abrem nova frente na guerra da Ucrânia, enquanto a diplomacia marca passo

Combatentes pró-russos, que a Ucrânia diz estarem a ser apoiados por soldados russos, conquistam cidades junto ao mar de Azov, numa luta pela estrada que leva a Mariupol e à península da Crimeia.

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Um habitante de Starobeshev abre uma caixa com munições que os soldados ucranianos deixaram ao abandono FRANCISCO LEONG/AFP

A posição oficial do Presidente russo sobre a guerra no Leste da Ucrânia ficou bem representada nas imagens da enorme mesa redonda que juntou líderes ucranianos, russos, bielorrusos, cazaques e da União Europeia em Minsk, na Bielorrússia – sentado o mais longe possível do Presidente ucraniano, Vladimir Putin foi à reunião reafirmar que está disponível para avaliar "cenários de cooperação", mas deixou claro que o problema tem de ser resolvido entre a Ucrânia e os separatistas.

Com Kiev a exigir que os combatentes pró-russos deponham as armas e a acusar a Rússia de violar a sua integridade territorial; com os separatistas a exigirem que Kiev reconheça os resultados dos referendos que disseram "sim" à independência das províncias de Donetsk e Lugansk; e com a Rússia a dizer que não tem qualquer responsabilidade numa e noutra coisa, seria difícil que a capital da Bielorrússia fosse palco de uma viragem importante no conflito – o ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, resumiu tudo em duas curtas frases, naturalmente diplomáticas: "É difícil analisar se o encontro entre o Presidente Poroshenko e o Presidente Putin em Minsk constituiu um importante avanço nas relações. Talvez não, mas vamos esperar que este encontro não tenha sido o fim de um qualquer desenvolvimento, mas sim um outro início."

Na manhã desta quarta-feira, as ténues declarações de esperança que saíram da cimeira de Minsk deram lugar à notícia de que os combatentes separatistas conquistaram o controlo de Novoazovsk, uma cidade portuária com cerca de 13.000 habitantes no Sudeste do país, junto à fronteira com a Rússia e virada para o mar de Azov. Ao fim de semanas de bombardeamentos, as tropas ucranianas foram abandonando algumas cidades à medida que os separatistas fazem o seu caminho até ao mar de Azov – e à estrada que liga esta região do Sudeste ucraniano a Mariupol e à península da Crimeia.

Fotografias partilhadas no Twitter pela jornalista Maria Antonova, correspondente da agência AFP em Moscovo, mostram o que ela diz ser "munições abandonadas pelo Exército ucraniano em Starobeshev", entre Donetsk e Novoazovsk. Num dos seus tweets, a jornalista diz que "uma equipa da AFP viajou de Novoazovsk até Donetsk, através de Starobesheve, e não viu qualquer sinal da presença do Exército ucraniano".

O presidente da Câmara de Novoazovsk, Oleg Sidorkin, confirmou à agência Associated Press, numa conversa telefónica, que os separatistas entraram na cidade. Também Andrii Lisenko, porta-voz das forças armadas ucranianas, confirmou a ofensiva, que diz ter como objectivo "a abertura de uma nova frente", mas disse que os separatistas estão a ser apoiados no terreno por soldados russos.

O controlo de Novoazovsk é importante, porque pode assegurar também o controlo da estrada que liga a Rússia à Crimeia, pela costa do mar de Azov.

Os combates entre as forças de Kiev e os separatistas (que o Governo ucraniano diz estarem a ser fortemente apoiados pela Rússia) começaram em Abril e nunca tinham chegado tão longe de Donetsk e Lugansk, o que pode indicar que os combatentes pró-russos estão a ser "encorajados e reforçados", escreve a AP. A mesma agência refere que o eventual controlo de uma ligação terrestre entre a Rússia e a Crimeia pelos separatistas "pode também dar aos rebeldes ou à Rússia o controlo de todo o mar de Azov e de todo o petróleo e riquezas minerais que ele contém".

Para o primeiro-ministro interino da Ucrânia, Arseni Iatseniuk, citado pela agência ucraniana UNIAN, o objectivo desta ofensiva mais a sul da cidade de Donetsk (mas ainda na província com o mesmo nome) é "o bloqueio da passagem de gás para os Estados-membros da União Europeia".  

Moscovo continua a desmentir o seu envolvimento directo na guerra no Leste da Ucrânia, mesmo depois de dez dos seus pára-quedistas terem sido capturados em território ucraniano – de acordo com a versão oficial do Kremlin, os soldados estavam a participar em exercícios militares, perderam a orientação e acabaram por entrar na Ucrânia sem intenção.
 

   

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