Senadores brasileiros impedidos de visitar presos políticos em Caracas

O autocarro onde seguia uma comitiva de políticos da oposição do Brasil, liderada por Aécio Neves, foi bloqueado por manifestantes à saída do aeroporto. Senadores foram obrigados a voltar para trás e exigem que Dilma Rousseff tome medidas "punitivas".

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Aécio Neves no aeroporto de Caracas junto à mulher de Leopoldo Lopez CARLOS BECERRA/AFP

“Estamos embarcando para a Venezuela, numa missão política e diplomática, fazendo aquilo que o governo brasileiro deveria ter feito há muito tempo: defender as liberdades, a democracia, a libertação dos presos políticos e eleições livres na Venezuela”, anunciava Aécio Neves, confiante, num vídeo publicado no YouTube, a bordo do avião disponibilizado pela Força Aérea Brasileira, à partida para Caracas. Outros seis senadores, membros de partidos da oposição ao Partido dos Trabalhadores, da Presidente Dilma Rousseff, seguiam com o líder do Partido da Social-Democracia Brasileira.



Segundo o El País, no programa da viagem a Caracas, a capital da Venezuela, para além da visita a López, estava também prevista uma reunião com membros da Mesa da Unidade Democrática (MUD), o movimento político de oposição ao regime venezuelano, assim como a visita aos outros dois presos políticos: António Ledezma e Daniel Ceballos. Este último e Leopoldo López iniciaram uma greve de fome há cerca de um mês, e prometem continuar até que Maduro oficialize as eleições parlamentares, previstas para o final de 2015, mas ainda sem data à vista. Segundo a sua família, López, líder do Partido Vontade Popular, encontra-se débil e já terá perdido 15 quilos.

O optimismo dos visitantes durou pouco tempo. O autocarro, cedido pelo Governo venezuelano, enfrentou vários “obstáculos” no trajecto que ligava o aeroporto à prisão. Entre manifestantes furiosos, que bateram nos vidros do autocarro, bloqueios policiais e obras de manutenção no sistema de canalizações da estrada, tudo serviu para que o grupo se visse numa situação “insegura”. Os acontecimentos a bordo do veículo foram sendo relatados, na primeira pessoa, por Aécio Neves, através da publicação de várias mensagens na rede social Twitter.

“Estamos em Caracas, sitiados em uma via pública. Nossa van foi atacada por manifestantes”, informava Neves, na sua conta oficial. À chegada ao Brasil, o ex-candidato presidencial relatou, à Folha de São Paulo, os momentos de tensão vividos pelo grupo. “ Várias dezenas de manifestantes violentos bateram nos vidros”, descreveu, acrescentando que “em nenhum momento a nossa segurança esteve garantida”

Dezenas de manifestantes rodearam o autocarro, que teve de parar devido a obras de manutenção na estrada, bateram na chapa e nos vidros, e lançaram objectos contra o veículo, insultando os brasileiros e gritando, entre outras coisas, “Chávez não morreu, multiplicou-se”, numa referência ao antecessor de Maduro, à frente dos destinos da Venezuela.

María Corina Machado, deputada da MUD, também seguia no autocarro, assim como as esposas dos três presos políticos, acusados de “instigação à desobediência civil”, aquando dos protestos de Fevereiro de 2014, que resultaram na morte de 43 pessoas. Citada pela agência Reuters, a deputada acredita que o Governo criou estes obstáculos “deliberadamente” e que, após o sucedido, “os senadores brasileiros sabiam agora como é viver numa ditadura”.

As autoridades venezuelanas justificaram o bloqueio policial da estrada e o congestionamento do trânsito devido à “transferência para Caracas de um cidadão venezuelano extraditado” pelo Governo da Colômbia, segundo informou Ministério das Relações Exteriores do Brasil.

Recorde-se que, aquando da chegada à Venezuela de Felipe González, antigo Presidente do Governo de Espanha,há cerca de dez dias, membros do executivo de Nicólas Maduro acusaram-no de "ingerência nos assuntos internos" do país socialista, por querer "auxiliar juridicamente" os advogados de López, Ceballos e Ledezma.

Aécio exige um protesto formal de Dilma

Uma das principais críticas de Aécio Neves à Presidente do Brasil tem que ver com a manutenção de relações estreitas entre Dilma e o Governo da Venezuela. Tal postura contrasta, na visão da oposição, com o “silêncio” da Presidente sobre as violações de direitos humanos no país nortenho do continente sul-americano.

O governo brasileiro tem que escolher de que lado está”, disse Neves à chegada ao Brasil, citado pela Folha. “Do lado da democracia e dos seus representantes ou (…) do lado do autoritarismo.”, concluiu.

Face à falta de segurança que a comitiva de senadores sentiu em Caracas e que a obrigou a voltar para o Brasil antes do esperado, a oposição exige que Dilma tome ”medidas punitivas”. Aécio Neves afirma que o grupo foi “impedido de cumprir o objectivo da missão” e que, por isso, vai “exigir que a Presidente Dilma convoque para consultas o embaixador de Caracas e tome outras providências cabíveis diante dessa situação lamentável”.

O senado do Brasil aprovou uma “moção” censurando os acontecimentos de quinta-feira, em Caracas. Também o Ministério das Relações Exteriores do país “lamentou os incidentes”, através de um comunicado publicado no seu site, considerando que os actos hostis dos manifestantes, contra os parlamentares brasileiros, foram “inaceitáveis”. Assim sendo, refere o comunicado que o “Governo brasileiro solicitará ao Governo venezuelano, pelos canais diplomáticos, os devidos esclarecimentos sobre o ocorrido.”
 

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