Segunda enfermeira americana com ébola fez viagem de avião
Sindicato de enfermeiros diz que profissionais trabalharam durante dias sem protecção nem protocolos adequados. Companhia aérea procura os 132 passageiros que fizeram a viagem com a doente.
A notícia de que uma segunda enfermeira do hospital de Dallas onde Thomas Duncan foi tratado dá força às acusações de que aquela instituição não tinha em vigor um protocolo de tratamento eficaz para evitar a propagação da doença, o que torna “uma possibilidade muito real” que surjamm novos casos. o surgimento de novos casos.
Amber Vinson, de 29 anos, começou a sentir febre na terça-feira e, tal como a colega Nina Pham, o primeiro caso confirmado de contágio nos EUA, foi de imediato colocada em isolamento. Mas antes disso tinha voado do Ohio, onde fica a casa da família para o Texas, onde trabalha. O risco de ter contaminado alguém nessa viagem é pequeno, mas é mais uma preocupação para as autoridades de saúde, que não estão a dar boas provas de estarem a ter a situação sob controlo.
Apesar de pontuais, os casos de contágio fora de África estão a despertar atenção mundial para a maior epidemia de ébola desde que o vírus foi identificado em 1976 e a servir para testar a prontidão dos sistemas de saúde nacionais – nos EUA e em Espanha, onde se registou o primeiro contágio fora de África, com resultados preocupantes.
Já se sabia que Duncan, um liberiano que contraiu ébola durante uma visita ao seu país natal, tinha sido mandado para casa com antipiréticos quando se dirigiu a primeira vez ao Hospital Presbiteriano de Dallas. O maior sindicato de enfermeiros dos Estados Unidos diz agora que, quando foi internado dias depois, já em estado grave, foi mantido durante várias horas numa área não isolada do serviço de urgência e as análises que efectuou foram enviadas para o laboratório pelos circuitos normais.
Mesmo quando se confirmou que tinha ébola, os procedimentos seguidos pelo hospital mantiveram-se aquém do exigido. Os enfermeiros foram instruídos a colocar fita adesiva para fechar o equipamento de protecção em torno do pescoço e alguns supervisores chegaram a dizer que era desnecessário o uso de viseiras. “As instruções estavam sempre a mudar” e “ninguém sabia quais eram os protocolos ou foi capaz de verificar que tipo de equipamento de protecção devia ser usado, nem qualquer treino”, denunciou o sindicato.
O hospital não confirma as denúncias, mas um epidemiologista enviado pelos Centros de Prevenção e Controlo de Doenças (CDC) para investigar as falhas em Dallas disse ao Washington Post que os profissionais “foram adicionando equipamento de protecção à medida que o estado do paciente se deteriorava”. “Primeiro usavam máscaras, depois viseiras, mais tarde respiradores e só depois um par de luvas”, explicou Pierre Rollin.
Ao todo, 76 funcionários do hospital terão estado potencialmente expostos ao vírus. “Estamos a preparar planos de contingências para mais casos, essa é uma possibilidade muito real”, admitiu Clay Jenkins, chefe do condado de Dallas.
Mas os próprios CDC estão sob o fogo da crítica. Thomas Frieden, director da agência que é uma autoridade mundial na gestão de doenças infecciosas, reconheceu que deveria ter enviado um grupo de peritos para o Texas mal o diagnóstico de Duncan foi conhecido, a fim de gerir a situação. De agora em diante, prometeu, equipas de reacção rápida vão seguir para o terreno “no espaço de horas” sempre que haja um caso confirmado em qualquer ponto do país. Em cima da mesa está também a hipótese de criar uma rede nacional de hospitais de referência, onde sejam concentrados os meios e os especialistas.
Actualmente, há apenas quatro hospitais nos EUA com unidades especializadas no isolamento de doenças altamente infecciosas, num total de 19 camas. Duas delas, no Nebraska e na Geórgia, trataram os norte-americanos que contraíram o vírus em África, mas as condições e o treino das suas equipas – que estão há vários anos a preparar-se para lidar com o mortífero vírus – dificilmente podem ser replicados em tempo útil noutras unidades, adiantou a revista Time.
Mais de 4500 mortos
Segundo os últimos números da OMS, a epidemia de ébola já matou perto de 4500 pessoas, a quase totalidade em três países da África Ocidental – Libéria, Serra Leoa e Guiné-Conacri – atingindo uma taxa de mortalidade próxima dos 70%. Até 12 de Outubro, registaram 4493 mortos, em 8997 casos de infecção, refere a última actualização desta agência da ONU, que repetiu os apelos para uma concertação internacional na luta contra o vírus. Dentro dentro de um mês e meio, segundo os mais recentes cálculos, o ébola poderá infectar entre 5000 a 10.000 pessoas por semana.
“O ébola está à nossa frente, vai mais depressa do que nós e está prestes a ganhar a corrida”, avisou Anthony Banbury, chefe da recém-criada missão das Nações Unidas para o ébola, terça-feira numa reunião no Conselho de Segurança. O especialista avisou que “ou o mundo trava agora o ébola ou será confrontado com uma situação sem precedentes e para a qual não tem um plano”.
Na véspera da reunião dos ministros da Saúde da União Europeia para discutir uma resposta coordenada à epidemia, a Comissão fez saber que não recomenda a introdução de controlos nos portos e aeroportos aos passageiros oriundos dos países mais afectados, uma medida que já foi posta em prática pelo Reino Unido e que a França e República Checa se preparam também para executar. Mais do que controlar a temperatura ou realizar inquéritos, o que é feito nos aeroportos de partida, Bruxelas defende que se use um reforço da vigilância para melhorar a informação dada aos passageiros sobre o que devem fazer no caso de virem a desenvolver sintomas suspeitos.