Presidente da Ucrânia dissolve parlamento e convoca eleições para Outubro
Petro Poroshenko e Vladimir Putin reunem-se esta terça-feira em Minsk. Não se espera qualquer solução para o conflito na Ucrânia e para a crise política entre Kiev e Moscovo.
O encontro em Minsk, o primeiro entre os dois líderes, ocorre debaixo de enorme expectativa. Mas nenhum dos desenvolvimentos da véspera – um dia repleto de acontecimentos – deixou no ar a ideia de que da reunião bilateral pudesse sair qualquer tipo de solução para a crise militar e política entre a Ucrânia e a Rússia.
A dissolução do parlamento foi anunciada por Poroshenko numa declaração televisiva ao início da noite, e justificada com o desejo da população ucraniana de reconfigurar o órgão legislativo à nova realidade do país. Segundo disse, os trabalhos estavam comprometidos porque um número de deputados ainda estavam ligados ao regime de Viktor Ianukovich, o Presidente pró-russo que foi deposto na sequência da revolução da Praça Maidan – o primeiro acto no conflito que agora opõe Kiev e Moscovo.
A tensão entre os dois países disparou em Março, quando o Kremlin anexou a península da Crimeia na Federação Russa, alegadamente para proteger a população russófona. Desde Abril, uma nova insurreição separatista pró-russa mantém o Leste da Ucrânia a ferro e fogo. Os combates entre as tropas do Exército nacional e os militantes e mercenários mobilizados pelos independentistas – que Kiev alega contarem com o apoio militar de Moscovo – já fez mais de 2000 mortos e 400 mil desalojados.
Esta segunda-feira, os confrontos estenderam-se mais para Sul, com a abertura de uma nova frente de combate junto da cidade portuária de Mariupol. O Exército ucraniano anunciou estar a combater “uma coluna com dezenas de tanques e veículos blindados” russos já dentro do seu território, e o Presidente Petro Poroshenko manifestou a sua “extrema preocupação” com a nova “agressão de Moscovo”, num telefonema com o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy.
Ainda assim, Poroshenko insistiu estar preparado para “falar de paz” no seu encontro de terça-feira com Vladimir Putin. A garantia foi dada em pessoa à chanceler da Alemanha, Angela Merkel, que viajou até Kiev numa espécie de missão preparatória das conversações de Minsk, que terão a presença de representantes europeus. A líder alemã defendeu uma trégua nos combates para dar espaço ao processo político, e manifestou-se a favor de uma solução que não comprometa a integridade territorial da Ucrânia nem acrescente maiores prejuízos à Rússia, já penalizada por sanções económicas impostas pela comunidade internacional.
“A situação na Ucrânia é frágil e muito perigosa. Acredito firmemente numa solução política, mas não creio que vá aparecer já [na cimeira de Minsk]”, alertou a chanceler numa entrevista ao jornal The Wall Street Journal. Nos bastidores diplomáticos, era muito reduzida a expectativa de um compromisso: os objectivos negociais da Rússia e da Ucrânia são tão distintos que parece virtualmente impossível encontrar um meio-termo, apesar da pressão e dos incentivos internacionais.
Os analistas estão igualmente cépticos. Para Leon Aron, o director de Estudos Russos do American Enterprise Institute (think-tank conservador sedeado em Washington), as contingências políticas internas, em Moscovo e Kiev, “obrigam” os dois Presidentes a voltar para casa com uma vitória, não uma concessão.
Em declarações à CNBC, o especialista do Eurasia Group, Alexander Kliment, lembrou que Vladimir Putin “investiu todo o seu capital político e geopolítico” no conflito ucraniano e por isso resistirá a firmar qualquer acordo que possa ser entendido como uma cedência a forças externas. Poroshenko, nota por seu lado o especialista da universidade Johns Hopkins, Donald Jensen, também tem pouca margem de manobra: a dependência energética da Ucrânia deixa-o vulnerável à manipulação russa, mas a sua promessa eleitoral de derrotar os rebeldes impede-o de recuar a ofensiva – sob pena de perder a legitimidade política e abrir um novo vazio de poder no país.
Daí, a resposta pronta do Exército e os intensos combates para impedir a progressão dos tanques russos até Mariupol, uma cidade de 500 mil habitantes na costa do mar de Azov, e que aderiu ao referendo organizado em Maio pelos separatistas pró-russos para uma cisão com Kiev.
Moscovo insiste na ajuda
Como se não bastasse a intensificação dos combates para fazer disparar o nível de alarme na capital, a Rússia informou esta segunda-feira que tenciona enviar uma nova caravana humanitária para a região Leste da Ucrânia. O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, disse que o Kremlin vai combinar as condições para o transporte com as autoridades ucranianas, e que uma lista detalhada do conteúdo do carregamento foi já fornecida aos inspectores.
No fim-de-semana, uma contestada coluna com mais de 200 camiões, que viajaram desde uma base militar perto de Moscovo para ajudar as populações cercadas, regressou à Rússia depois de descarregar água, mantimentos, medicamentos e geradores na cidade de Lugansk, ainda sob o controlo dos separatistas. Em conferência de imprensa, Lavrov disse esperar que “os mal-entendidos que houve à passagem da primeira coluna sejam tidos em conta para que não haja adiamentos artificiais” na distribuição da ajuda humanitária, “a partir desta semana”.