Rússia desmascara chefe dos espiões americanos em Moscovo
Os serviços secretos russos revelaram o nome do chefe da CIA depois da expulsão de um alegado espião norte-americano, no início da semana.
"No caso de Ryan Fogle, a CIA ultrapassou a linha vermelha e nós fomos forçados a reagir de acordo com os procedimentos oficiais", disse uma representante do FSB russo à agência Interfax e ao canal RT, sob anonimato.
Ryan Fogle, terceiro secretário da embaixada norte-americana em Moscovo, foi detido e expulso do país no início da semana, acusado de tentar contratar um agente russo para a CIA. Segundo o canal RT, a representante dos serviços secretos disse que a CIA já tinha tentado aliciar espiões russos noutras ocasiões desde finais de 2011, e que a detenção e expulsão de Fogle serviu para punir a falta de resposta da agência norte-americana às queixas do FSB. "Não foram casos isolados, e foi isso que nos preocupou. Por isso, decidimos avisar os nossos colegas americanos e pedimos-lhes que pusessem fim a essas actividades", cita o canal RT.
"Esperávamos que os nossos colegas americanos nos dessem ouvidos, já que lhes apresentámos informações precisas sobre agentes da CIA que estavam a tentar recrutar pessoas em Moscovo, e quem estava a fazer o quê", lê-se na notícia. Mas, segundo a versão dos serviços secretos russos, os norte-americanos não só não deram ouvidos como repetiram as tentativas de alistarem um agente duplo em Moscovo.
Segundo a responsável da agência que sucedeu ao KGB russo citada pelo RT, um outro alegado agente da CIA, chamado Benjamin Dillon – que, tal como Ryan Fogle, era terceiro secretário da embaixada norte-americana em Moscovo –, foi apanhado a aliciar um agente russo no ano passado. "Dillon fez o mesmo que Fogle", disse a representante, mas os serviços secretos russos não denunciaram o incidente publicamente, "na esperança de que a CIA tirasse as necessárias conclusões". Mas como não tirou – queixa-se a representante do FSB russo –, a gota de água que fez transbordar o copo foi o caso de Ryan Fogle.
Uma das questões que mais espantou os especialistas em espionagem foi precisamente o facto de os serviços secretos russos terem divulgado publicamente a detenção de Fogle – o mais natural, quando se detecta um espião, é segui-lo e controlar as suas actividades, para extrair mais informação. O pouco habitual circo mediático à volta de Ryan Fogle e as condições em que foi detido – com uma peruca loura colocada desajeitadamente na cabeça e uma mochila com óculos escuros e um papel com instruções para abrir uma conta no Gmail – levou muitos analistas a questionar os objectivos do FSB.
A acreditar na versão da fonte anónima da Interfax e do canal RT, o objectivo era elevar a pressão sobre a CIA e esperar que os Estados Unidos "retirassem a conclusões certas". "Acredito que o incidente [que envolveu Ryan Fogle] não vai afectar a cooperação" entre os dois países na luta contra o terrorismo internacional, disse a responsável. "No entanto, a confrontação entre espionagem e contra-espionagem estará sempre em análise."
O nome do alegado chefe da CIA em Moscovo surgiu apenas na versão em língua russa da agência Interfax e na versão original da notícia do canal RT, mas acabou por ser retirado. Muitos dos principais media norte-americanos e britânicos omitem o nome, mas Richard Silverstein, autor do blogue Tikun Olam, dedicado ao conflito israelo-árabe e às relações entre judeus e muçulmanos, guardou uma captação de ecrã da primeira versão da notícia do canal RT, onde surge o nome Stephen Holmes.
"A verdadeira questão é saber o que aconteceu a esta notícia e porquê. Presumivelmente o FSB teria a intenção de expor a identidade do responsável da CIA. Isso iria torná-lo ineficaz como 'fantasma'. Se foi esse o caso, pode ter sido uma vingança extra pelo facto de Holmes se ter recusado a controlar os seus operacionais quando o FSB lhe pediu", escreve Richard Silverstein, cuja opinião é publicada e ouvida regularmente por jornais, sites e estações de televisão como o Haaretz, o Christian Science Monitor, o Los Angeles Times ou a Al-Jazira.
"Mas porquê censurar a notícia depois de o nome dele ter sido exposto?", questiona Silverstein, lançando depois várias hipóteses: "Um conflito no interior do Kremlin? Políticos a tentar acalmar o FSB? Uma queixa da embaixada dos Estados Unidos? A ameaça de que os Estados Unidos iriam revelar a identidade do chefe dos serviços secretos russos em [Washington] DC?" Seja como for, conclui Silverstein, o mal já está feito: "A América terá de responder na mesma moeda."