República Centro-Africana elege uma mulher para restaurar a paz
O Parlamento interino nomeou Catherine Samba-Panza para reconciliar o país e para pôr fim ao conflito étnico que dura desde Março.
As condições para os candidatos se poderem apresentar perante o Parlamento eram muito restritivas. De fora ficaram todos aqueles que tiveram cargos políticos durante a governação do anterior Presidente, Michel Djotodia, os responsáveis partidários, os militares no activo e todos aqueles que pertenceram a uma milícia ou rebelião nos últimos vinte anos.
Apesar das condicionantes, perfilaram-se oito candidatos para ocupar o cargo deixado por Djotodia a 10 de Janeiro, na sequência de pressões da comunidade internacional, especialmente da França. A antiga potência colonial enviou no início de Dezembro 1600 soldados para apoiar as forças da União Africana (MISCA) no processo de contenção do conflito.
Depois de uma primeira volta em que nenhum dos candidatos conseguiu obter a maioria absoluta dos votos, os 129 membros do Conselho Nacional de Transição acabaram por eleger Samba-Panza, com 75 votos. Désiré Kolingba, filho de um antigo chefe de Estado e apoiado por uma parte dos ex-Séléka (grupos rebeldes, na sua maioria muçulmanos, que apoiaram a ascensão de Djotodia), contou apenas com o voto de 53 deputados.
A Presidente da Câmara de Bangui era vista como uma das favoritas, reunindo o apoio de associações de mulheres, mas sobretudo por ter boas relações tanto com as milícias anti-balaka (grupos maioritariamente de cristãos) como com os ex-Séléka.
O resultado da eleição foi recebido com aplausos por todos aqueles que se encontravam no Parlamento, descreve o correspondente da AFP, acrescentando que foi entoado o hino nacional da RCA. As primeiras palavras de Samba-Panza dirigiram-se a ambos os lados do conflito que dura há quase um ano e que já obrigou um milhão de pessoas a abandonar as suas casas. “Manifestem a vossa adesão à minha nomeação dando um sinal forte de deposição das armas”, afirmou.
Pela frente, a nova Presidente tem a tarefa árdua de pacificar o país e criar condições para que se realizem novas eleições. Segundo o calendário da transição, o sufrágio deverá ser realizado o mais tardar durante o primeiro semestre de 2015, embora Paris prefira que as eleições se celebrem ainda este ano, de forma a pôr termo à operação militar no país.
Foi com um tom conciliador que Samba-Panza se dirigiu aos seus compatriotas: "A partir deste dia, eu sou a Presidente de todos os centro-aficanos sem excepção."
O Presidente francês, François Hollande, saudou a escolha, garantindo que "a França está ao seu lado nesta tarefa difícil." Os elogios foram reforçados pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Laurent Fabius, que considerou Samba-Panza "uma mulher notável."
Para além de Samba-Panza e de Kolingba, eram candidatos o ex-Presidente da Câmara de Bangui, Jean Gombé Ketté, o filho de um antigo Presidente, Sylvain Patassé, o alto funcionário internacional Faustin Takama, o empresário Emile Nakombo, a professora de inglês Regina Konzi-Mongo e o cirurgião Mamadou Nestor Nali.
Apesar do reforço das forças de segurança com o envio do contingente francês, a violência tem sido difícil de controlar. Desde o início de Dezembro que os combates entre as milícias já fizeram mais de mil mortos.
Notícia actualizada às 19:22 - Acrescentaram-se as declarações de François Hollande e de Laurent Fabius.