Rede pedófila no Governo britânico nos anos de 1980 foi encoberta

Antigo ministro de Margaret Thatcher diz que, na época, foi mais importante "proteger o sistema" do que denunciar os crimes e proteger as vítimas.

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Cameron quer saber o que aconteceu aos ficheiros sobre a rede de pedofilia Reuters

Tibbet, que foi ministro de Margaret Thatcher (chefe do Governo entre 1979 e 1990), esteve na BBC1 para comentar a mais recente notícia sobre os escândalos sexuais no Reino Unido — o desaparecimento, dos arquivos oficiais, de pastas relativas aos casos. Ontem, soube-se que outro ficheiro com 114 pastas também desapareceu do arquivo do Ministério do Interior.

Foi o próprio Ministério do Interior (Home Office) quem anunciou que está a investigar o que aconteceu aos ficheiros relativos à rede de pedofilia em Westminster naquela década. Os documentos foram entregues na década de 1980 ao ministro do Interior de então, Leon Brittan, pelo deputado conservador Geoffrey Dickens, que os compilou.

Não se sabe o que aconteceu aos documentos, apenas que seriam bastante detalhados e que Dickens foi aconselhado por Brittan, através de uma carta, a entregá-los à Scotland Yard. A polícia britânica, porém, já fez saber que não tem registo de entrada desse material.

Segundo o jornal The Guardian, Dickens, que morreu em 1995, disse à sua família que entre 1983 e 1984 passou o material que recolhera ao ministro do Interior e que a informação contida nos ficheiros iria fazer “rebentar” um caso que afectaria gente muito poderosa — pelo menos oito personagens públicas.

O actual primeiro-ministro, o conservador David Cameron, ordenou ao Ministério do Interior a realização de uma investigação para apurar o que aconteceu aos ficheiros, se foram perdidos, escondidos ou destruídos. Mas a conclusão deste inquérito, frisa o Guardian, poderá ser precisamente a de que houve uma ocultação deliberada da rede de pedofilia no Governo de então.

Em declarações à BBC, o actual ministro da Educação, Michael Gove, disse que o inquérito vai revelar que, na década de 1980, decorriam investigações policiais às actividades pedófilas de políticos e outras figuras públicas.

Investigações travadas para proteger o sistema, como disse Tebbit. “Penso que na altura todos pensaram que apesar de as coisas terem descarrilado em alguns aspectos, era mais importante proteger o sistema e não investigar mais”, disse o antigo ministro de Thatcher. “Na minha opinião, essa opção foi errada, pois que os abusos [sexuais] aumentaram”. “Se houve encobrimento? É bem possível. Era o que se fazia na época”, disse Norman Tebbit.

Para já, ainda não foi levantada a possibilidade de haver uma investigação criminal aos casos, apesar de se viver hoje numa época em que a opinião pública já não quer proteger nem os políticos nem o sistema, e em que se exige a punição dos crimes sexuais, mesmos os do passado. Na semana passada, o famoso apresentador da BBC Rolf Harris, de 84 anos, foi condenado a cinco anos de prisão por abusos sexuais a crianças entre as décadas de 1960 e 1980, e outro famosos apresentador, Jimmy Savile, morreu antes de poder ser julgado.

Alguns dos protagonistas do escândalo estão ainda vivos e há quem considere que devem responder na justiça. É o que pensa o deputado trabalhista Simon Danczuk. O problema é que os documentos que identificam os suspeitos e os seus crimes desapareceram, não se sabe como, nem quando. “Não fazia ideia de que havia outros dossiers em falta. O público vai pensar que estes documentos desapareceram para proteger os nomes dos envolvidos. Essa é a conclusão a que muitos vão chegar e eu percebo-os”, disse Danczuk.

Notícia corrigida: Margaret Thatcher foi primeira-ministra entre 1979 e 1990.

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