Soldado americano libertado das mãos dos taliban ia desertar?

Bowe Bergdahl, 28 anos, esteve cinco anos cativo e mal fala inglês.

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Os pais de Bowe ainda não falaram directamente com o filho, mas enviaram-lhe mensagens Scott Olson/AFP

Bowe está neste momento na Alemanha, onde está a ser avaliado. O seu pai enviou-lhe uma mensagem mas em pashtun, porque depois de cinco anos preso, tem dificuldade em falar em inglês (a razão não é clara, apontando-se trauma como provável causa).

“Gostava de dizer agora ao Bowe, que está a ter problemas em falar inglês: ‘sou o teu pai, Bowe’”, disse Bob Bergdahl.

O pai comparou o processo pelo qual o filho está a passar ao de um mergulhador a voltar à tona das profundezas do oceano: “Bowe está há tanto tempo fora que vai ser muito difícil regressar. Se regressa demasiado depressa, isso pode matá-lo”.

A mensagem do pai para Bowe continuou: “Espero que o teu inglês esteja a voltar. Estou tão orgulhoso do teu carácter e da tua perseverança e da tua capacidade de adaptação. Acima de tudo, estou orgulhoso de quanto querias ajudar o povo afegão”. Bob fez ainda um pedido ao filho para que confie nos responsáveis americanos que o estão a acompanhar: “Tens uma equipa muito dedicada. Ouve as instruções deles, nós conhecemo-los, nos mandámo-los lá. Eles são verdadeiros, eles sabem o que estão a fazer, eles estão lá para te ajudar”.

“Confia neles”, disse pelo seu lado a mãe, Jani Bergdhal. “Está tudo bem, e leva todo o tempo de que precisares para recuperar e descomprimir. Não há pressa. Tens a tua vida à tua frente.”

Os pais não responderam a perguntas na conferência de imprensa. Mas cada vez mais se somavam questões à volta da história de Bowe, especialmente do seu desaparecimento a 30 de Junho de 2009, com descrições de que saiu do seu posto apenas com um bloco de notas, uma caneta e uma bússula, ou que teria sido capturado numa latrina.

"Cinco anos é castigo suficiente"
Uma série de militares que estiveram no Afeganistão com Bowe vieram indignar-se nas redes sociais pela troca, dizendo que Bowe planeava desertar. Pelo menos seis soldados morreram em missões de busca.

“Ele provavelmente passou um muito mau bocado”, disse o secretário da Defesa Chuck Hagel. “A primeira questão agora é a sua saúde.”

Um responsável do Departamento da Defesa disse, sob anonimato, à CNN que não é provável que haja um castigo: “Cinco anos é suficiente”.

Numa página do batalhão de Bowe no Facebook, muitos militares queixavam-se de ter sido feita uma troca por alguém que, acusavam, tentou desertar. “Desafio qualquer um de vocês a passar cinco anos preso nas mãos dos taliban e vir aqui acusá-lo de novo. Qualquer que tenha sido a sua intenção, já pagou mais do o que suficiente pelo que fez.”

Os republicanos também não pararam de criticar a libertação e a troca, dizendo que o congresso devia ter sido consultado. A conselheira de segurança nacional Susan Rice disse que o Congresso tinha sido informado no passado e que o Pentágono tinha tido autorização prévia do Departamento de Justiça, mas que era preciso actuar com rapidez. “Havia razões para preocupação de que a sua vida poderia estar em risco.”

Os esforços para negociar a libertação de Bowe Bergdahl começaram em Novembro de 2010, e o seu regresso foi considerado uma prioridade a partir de Maio de 2011. Responsáveis dizem que há algumas semanas se apresentou uma oportunidade de negociar e que, com mediação do Qatar, acabou por ter sucesso.

“Achámos que se conseguíssemos uma abertura, precisávamos de o tirar de lá para salvar a sua vida”, disse Hagel. A razão prende-se com a deterioração do seu estado de saúde, disseram responsáveis, sem elaborar. No último vídeo de Bowe, divulgado em Janeiro, notava-se que o soldado tinha perdido bastante peso.

Os EUA disseram ainda ter garantias do Qatar que os cinco taliban libertados iriam ser vigiados e teriam pouca margem para agir contra interesses norte-americanos. Alguns responsáveis afegãos disseram-se preocupados por esta libertação, especialmente quando as últimas tropas americanas saírem do país, em 2016. 
 

   

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