Face a um ultimato do líder dos protestos, primeira-ministra da Tailândia recusa demitir-se
Quatro manifestantes morreram durante o fim-de-semana.
A primeira-ministra, Yingluck Shinawatra, garante que não se demite, rejeitando um ultimato feito pela oposição. Numa declaração televisiva, garantiu que “abrirá todas as portas” a uma solução diplomática entre os seus opositores e os seus apoiantes. Mas garantiu que não se demite, dizendo ainda que nesta altura não há calma suficiente no país para eleições antecipadas, nem para a proposta do líder dos manifestantes, um conselho do povo. “Não vejo como isso poderia resultar com a nossa Constituição”, argumentou.
Do lado dos manifestantes, o líder, que é também membro do Partido Democrata, Suthep Thaugsuban, tinha feito um ultimato, dando um prazo de dois dias para a demissão da chefe do Governo, após uma reunião com Yingluck, patrocinada pelo Exército. Manifestantes chegaram a tentar invadir uma esquadra de polícia onde se encontrava Yingluck Shinawatra, obrigando as forças de segurança a levá-la para um local indeterminado.
Os militares estão a ser vistos como chave para a resolução da crise. Até agora mantiveram-se neutros, mas analistas lembram que desde a década de 1930 a Tailândia viu 18 golpes militares, alguns sem sucesso, outros com sucesso. O exército levou à saída do anterior primeiro-ministro e irmão da actual chefe de Governo, Thaksin Shinawatra, em 2006.
Panitan Wattanayagorn, da universidade Chulalongkorn, diz que o exército tenderá agora antes a pressionar os políticos. “Poderemos não ver um golpe aberto como no passado”, disse o analista ao Financial Times. “Não será uma intervenção directa, a não ser que os confrontos fiquem muito feios.”
Esta segunda-feira continuaram as manifestações com muito uso de gás lacrimogéneo pela polícia na capital. Manifestantes dedicavam-se a retirar, com cordas e as próprias mãos, as pesadas barreiras de cimento em volta do gabinete da primeira-ministra.
No domingo, cerca de 70 mil apoiantes do Governo, os chamados camisas vermelhas, geralmente do Norte do país, entre a classe média urbana e mais baixa rural, concentraram-se perto do Estádio Nacional para apoiar a primeira-ministra. Estudantes que saíam de uma universidade perto e os camisas vermelhas envolveram-se em confrontos, e uma pessoa morreu com um tiro disparado para o campus universitário. As outras três vítimas morreram em lutas, com armas de fogo e facas, na parte Leste da cidade, diz o Financial Times. Um grupo de estudantes terá ficado cercado na universidade, e só conseguiu de lá sair esta manhã.
Depois dos confrontos, líderes dos camisas vermelhas dizem que não podiam garantir a segurança dos seus apoiantes e estes começaram a deixar Banguecoque em autocarros, diz a revista Time. Os manifestantes são descritos como uma mistura de membros do Partido Democrata, na oposição desde 2010, e como sendo provenientes da elite liberal e apoiante da monarquia de Banguecoque, os “camisas amarelas”, e ainda membros de uma seita budista.
Os dois grupos “acreditam em versões diferentes da democracia”, notava Thitinn Pongsudhirak citado no diário norte-americano Washington Post. Os apoiantes do Governo querem ser ouvidos, e são uma esmagadora maioria, que permite ao partido dos Shinawatra vencer eleições. Os manifestantes dizem que “se a maioria eleita representa a vontade dos corruptos, não funciona”.
Tudo isto tendo como pano de fundo um monarca profundamente popular, mas que está a ficar mais velho e frágil. Nesta crise, todos esperam o que dirá o rei Bhumibol Adulyadej. O monarca é tido como o garante da unidade do país e tão respeitado que os guias turísticos aconselham a que nenhum visitante pise uma nota que por acaso vá a voar pelo chão, porque tem a imagem do rei. O rei deverá falar no seu 86º aniversário, esta quinta-feira.