Putin denuncia em Volgogrado atentados "injustificáveis"

Presidente russo visitou a cidade dois dias depois dos atentados. Autor da primeira explosão era um paramédico russo.

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Putin encontrou-se com sobreviventes dos ataques Alexei Nikolskiy/RIA Novosti/Reuters

“Pouco importa o que digam os criminosos para tentar justificar os seus actos, não há qualquer justificação para crimes cometidos contra mulheres e crianças”, disse o Presidente russo no início do encontro com o governador e os responsáveis pela segurança em Volgogrado, cidade de um milhão de habitantes e porta de entrada para a região sul da Rússia. “A vileza do crime – ou crimes – que aqui foram cometidos dispensa mais comentários”, acrescentou, numa breve declaração transmitida pela televisão nacional.

O último balanço do Ministério da Saúde russo revela que 18 pessoas morreram no atentado à entrada da central de comboio de Volgogrado, e 16 no que, menos de 24 horas depois, destruiu um autocarro eléctrico no centro da cidade. Nos hospitais da cidade continuam internados cerca de 60 feridos, alguns dos quais em estado crítico.

Putin chegou ainda de madrugada à cidade e, depois de depositar um ramo de rosas no local da segunda explosão, foi filmado a visitar os feridos – uma deslocação feita depois de ter sido criticado pela demora em falar ao país após os atentados. Só quebrou o silêncio terça-feira, mais de 24 horas depois do último ataque, numa mensagem de Ano Novo em que avisou que não dará trégua aos radicais: “Vamos continuar a lutar, tenaz e ininterruptamente, contra os terroristas até à sua eliminação total”.

Um aviso que é, antes de mais, uma resposta ao desafio dos radicais que, a seis semanas do início dos Jogos Olímpicos de Inverno, parecem querer mostrar que por mais draconiana que seja a segurança imposta em Sochi, as grandes cidades russas continuam vulneráveis. E ainda que nenhum grupo tenha reivindicado a acção, as suspeitas recaem nos jihadistas oriundos das repúblicas do Cáucaso do Norte, onde a guerrilha separatista da Tchetchénia, derrotada pelas tropas enviadas por Putin em 1999, deu lugar na última década a grupos que usam o terror como arma para instaurar um Estado islâmico na região.

Doku Umarov, o mais influente dos líderes jihadistas da região, tinha em Julho apelado aos radicais que usassem “a máxima força” para impedir a realização dos Jogos de Sochi. E as suspeitas reforçam-se ainda mais com a notícia – ainda não confirmada oficialmente – de que o autor do ataque de domingo foi Pavel Pechionkin, um paramédico oriundo de Volzhska, cidade próxima do Cáucaso, que se tinha convertido há poucos anos à religião islâmica.

Segundo a imprensa russa, Pechionkin, filho de mãe muçulmana, abandonou a casa e o trabalho em 2011 para se juntar aos rebeldes no Daguestão, que é hoje tornou o viveiro do jihadismo no Cáucaso. O jornal Moscow Times divulgou nesta quarta-feira um vídeo que o suspeito colocou na Internet há alguns meses em resposta a um apelo que lhe tinha sido feito pelos pais para depor as armas e regressar a casa. “Vim para aqui para agradar a Alá e ganhar o paraíso”, afirmou na gravação colocada online.

No apelo, também gravado em vídeo, os pais pediam-lhe para abandonar as armas – “antes que te tornes um terrorista” – e insistiam que a religião muçulmana não apoia o recurso à violência. Pechionkin respondeu que “Alá pede aos muçulmanos que lutem contra os kafirs [infiéis]”. “Porque não haveríamos de deixar os filhos deles órfãos”, questiona, acrescentando que os infiéis “ocuparam as rádios e as televisões e querem inventar a religião que lhes convém para os muçulmanos”.
 
 
 

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