Putin abre a sua união aduaneira à Ucrânia no discurso do estado da nação
“Não aspiramos a que nos chamem superpotência", diz o Presidente russo.
“Espero que todos os lados possam alcançar um entendimento político no interesse do povo ucraniano”, disse Vladimir Putin, acusado de ter interferido directamente no processo de adesão da Ucrânia à parceria oriental da União Europeia, que permitiria a Kiev assinar um acordo de associação comercial com Bruxelas, que lhe facilitaria o acesso aos mercados dos Vinte e Oito. É por causa disso que há manifestações nas ruas de Kiev desde o início do mês, a exigir a demissão do Governo e do Presidente Viktor Ianukovich.
Num momento em que a secretaria de Estado norte-americana admitiu a possibilidade de erguer sanções económicas contra a Ucrânia – por ter sido enviada a polícia para tentar tirar os manifestantes das ruas já por duas vezes, uma delas actuando com violência –, Putin prefere apenas falar das vantagens da sua união aduaneira. “Nós não impomos nada a ninguém, mas se os nossos amigos o desejarem, estamos prontos a trabalhar juntos”, disse sobre a possível adesão da Ucrânia à união aduaneira da Rússia, Bielorrúsia e Cazaquistão.
A Ucrânia tem sempre dito que o “não” dado a Bruxelas no fim de Novembro não significa que entraria imediatamente nesta união aduaneira. Mas a 17 de Dezembro, há uma reunião em Moscovo entre a Ucrânia e a Rússia, onde a oposição ucraniana diz que Ianukovich vai "vender o país", entrando para a união aduaneira russa, a troco de descontos no fornecimento de gás natural que funcionarão como umcrédito de que o país muito precisa.
Valores tradicionais
Outro tema abordado por Putin durante o discurso sobre o estado da Nação, e que tem suscitado polémica a nível internacional, foi da lei aprovada em Junho que pune severamente a “propaganda homossexual perante menores”. O Presidente avisa que a Rússia “recusa a dita tolerância estéril, que não reconhece a diferença entre os sexos”.
A posição russa, assegura Putin, é a de “defender os valores tradicionais que constituem, há milénios, a base moral e espiritual da civilização de cada povo”, cita-o a AFP. “A Rússia tem um ponto de vista conservador, que tem por objectivo impedir um movimento para trás e para baixo, no caos das trevas” – conclui Vladimir Putin, citando o filósofo ortodoxo Nicolas Berdiaev, expulso da Rússia após a revolução comunista de 1917, explica a agência francesa.
“Não aspiramos a que nos chamem superpotência, entendendo essa palavra como uma aspiração a um poder hegemónico regional ou mundial”, afirmou Putin, citado pela Reuters. “Não violamos os interesses de ninguém, não nos forçamos como patronos de ninguém, nem tentamos ensinar ninguém a maneira certa de viver” – frases que são um eco das suas críticas aos EUA.
A Rússia, afirmou Putin, tentará liderar defendendo a lei internacional mas respeitando a soberania nacional e a independência das nações – citando como exemplo o papel importante desempenhado pela diplomacia de Moscovo para obter o acordo que levou a Síria a assinar o tratado para a proibição das armas químicas e a entregar o seu arsenal para destruição.