Protestos e forte segurança no início do processo de crimes neonazis em Munique
Centenas de polícias e manifestantes em volta do tribunal onde começou o julgamento de dez assassínios por um trio neonazi.
A principal acusada neste julgamento, Beate Zschäpe, 38 anos, apareceu com um blazer preto em cima de uma camisa branca e argolas nas orelhas. De braços cruzados, não aparentava nenhuma emoção especial. Como descrevia o tablóide Bild, mais parece alguém “que se encontraria numa caixa de supermercado” do que uma pessoa “louca de raiva ou explosiva”.
Zschäpe é acusada pelas mortes de dez pessoas (oito turcos, um grego, uma polícia alemã), a explosão de duas bombas em zonas de imigrantes em Colónia e 15 assaltos a bancos com os seus cúmplices e companheiros Uwe Mundlos e Uwe Böhnhardt. Foi em Novembro de 2011, após uma tentativa de assalto, falhada de Mundlos e Böhnhardt que a polícia chegou até eles e descobriu, por acaso, que o trio era responsável pelos assassínios cometidos entre 2000 e 2007 em várias cidades alemãs. Os dois apareceram mortos, num assassínio-suicídio quando perceberam que iam ser apanhados. Zschäpe entregou-se dias depois, e não tem prestado declarações.
Antes, ninguém tinha suspeitado de uma motivação racista, o que faz com que as autoridades estejam sob escrutínio por nunca terem levado esta hipótese a sério durante as investigações.
A pedido da defesa, o julgamento só deverá ser retomado daqui a uma semana, depois de o arranque do processo já ter sido adiado duas semanas por causa da distribuição de lugares na sala de audiência. Estes tinham sido dados por ordem de pedidos, e os media turcos ficaram de fora, não conseguindo nem um lugar. Depois de grandes protestos, e de avisos ao que isto faria à imagem da Alemanha no exterior, os lugares acabaram por ser sorteados.
Processo pode demorar dois anos
No processo vão responder ainda outros quatro acusados de terem apoiado o trio nos seus crimes. Há alguns detalhes a serem contados sobre eles, por exemplo, as tatuagens de “Andre E.”, que tem as palavras “Die Jew Die” (“morre judeu morre”) tatuadas na barriga, uma imagem de um soldado alemão do tempo da II Guerra no braço, um sol feito de suásticas na perna, e a imagem de Horst Wessel, um responsável nazi assassinado em 1930 e que foi então elevado a herói pela propaganda nacional-socialista, no peito.
Os primeiros manifestantes chegaram à porta do tribunal logo às 5h30 da manhã, com um cartaz em turco e em alemão: “Zschäpe, filha de Hitler, vais ter de pagar pelos assassínios”, mostra o site do semanário Die Zeit. Foram sendo cada vez mais, com cartazes contra a extrema-direita e “contra o racismo do Estado e na vida quotidiana”. Havia desde madrugada muitas pessoas na fila para os 50 lugares disponíveis para o público em geral.
Estima-se que o processo, em que vão ser ouvidas mais de 600 testemunhas, possa demorar até dois anos.
Entre os que assistem ao julgamento, estão familiares das vítimas, que são co-acusadores no processo, e cujos advogados já disseram que querem muito mais do que condenações: querem saber como foi possível que a investigação tenha falhado tão tremendamente, querem nomes de responsáveis. A família da primeira vítima, o vendedor de flores Enver Simsek, questiona se os assassinos tiveram algum apoio de redes locais de extrema-direita, por exemplo no modo como seleccionaram as suas vítimas.