Primeiro-ministro italiano pede desculpa aos que têm de emigrar para ter emprego
Enrico Letta publicou carta num jornal, assumindo culpa dos políticos. Mas diz que todos têm de se envolver.
A carta divulgada no diário La Stampa deste domingo, dia em que se comemora a festa da República Italiana, é a resposta a um artigo publicado no sábado, em que se dá conta da emigração de mais um italiano – para Singapura, onde conseguiu um emprego que em Itália lhe fugia persistentemente.
O que não admira, porque segundo números do último boletim da Confederação Italiana dos Sindidatos dos Trabalhadores (CISL), citados neste domingo pelo La Stampa, perderam-se 674 mil empregos nos últimos cinco anos, e outros 123 mil estão em risco em 2013.
Letta assume as culpas em nome dos políticos: “Disse-o no meu discurso [de tomada de posse] nas câmaras. Estamos todos envolvidos.” Quando uma geração inteira é roubada da esperança e da confiança – não de repente, mas pior ainda: lentamente dia após dia – não pode haver álibis, ninguém se pode dissociar pessoal ou politicamente”, escreveu.
“Nunca acreditei em salvadores da pátria. Acredito na comunidade. Só unidos poderemos reencontrar o sentimento alto e nobre do serviço ao país”, afirmou Letta, que dirige um governo de união nacional, que junta o Partido Democrático, de centro esquerda, com o Povo da Liberdade (centro-direita) de Silvio Berlusconi, com os centristas que apoiaram Mario Monti nas últimas legislativas.
Os jovens – que são as principais vítimas do desemprego em Itália – são a principal preocupação, sublinhou. Estima-se que pelo menos dois milhões de italianos com menos de 40 anos tenham seguido o rumo da imigração nos últimos anos, por não conseguirem encontrar trabalho, de todo, ou apenas empregos temporários e mal pagos no país. A estimativa foi feita pela associação Italents, que promove os talentos italianos no mundo.
O primeiro-ministro tornou a questão do desemprego jovem uma bandeira. Na viagem por várias capitais europeias que fez logo a seguir a tomar posse, defendeu a necessidade de aprovar, já na próxima cimeira de chefes de Estado e de Governo no fim de Junho, medidas a nível dos 27 países da UE para estimular o mercado de trabalho para os jovens. E recordou-o nesta carta.
“A dívida mais pesada que contraímos – reiterando os erros das gerações que nos precederam – é nos confrontos dos jovens. É um erro imperdoável”, afirmou. “No último mês fizemos todos os esforços para que na agenda da cimeira europeia do fim de Junho estivesse a luta contra o desemprego juvenil. Conseguimos.”