Primeiro caso de ébola chegou ao país mais populoso de África

Liberiano começou com sintomas ainda durante um voo e à chegada à Nigéria foi submetido a testes e colocado em isolamento num hospital, mas acabou por morrer. Principal companhia de aviação nigeriana anunciou suspensão de voos para a Libéria e a Serra Leoa.

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Metade dos casos de ébola registados até agora foram fatais SEYLLOU/AFP

De acordo com as informações avançadas pelo ministro da Saúde da Nigéria, Onyebuchi Chukwu, citado pelas agências internacionais, o homem trabalhava como consultor do Ministério das Finanças da Libéria e tinha chegado há uma semana a Lagos, a maior cidade do país, com mais de 20 milhões de habitantes. A sua irmã terá morrido também com o mesmo vírus, mas o consultor garantiu que não tinha estado em contacto com ela na Libéria.

Perante alguns sintomas que apresentava durante o voo, a vítima foi submetida a testes laboratoriais e ficou, por isso, numa ala em isolamento no hospital para que foi levado, mas acabou por não resistir à doença. As autoridades nigerianas estão agora a tentar investigar o percurso do homem, para poderem entrar em contacto com todas as pessoas com quem se cruzou e que correm agora o risco de estar também infectadas.

Ao contrário do ministro, o comissário da Saúde daquele país, Jide Idris, adiantou que ainda aguardam os resultados de alguns contra-testes, apesar de os primeiros terem dado positivo para Ébola. Do lado da Organização Mundial de Saúde (OMS) também se aguardam mais resultados de análises laboratoriais, diz a AFP.

Estão também a ser estudadas mais medidas dirigidas aos voos internacionais, mas tendo em consideração o período de incubação da doença, que vai de dois a 21 dias, é difícil detectar todos os casos. Para já, a maior companhia de aviação da Nigéria, a Arik, anunciou, neste domingo, a suspensão dos voos para a Libéria e para a Serra Leoa. “Na sequência da confirmação do primeiro caso mortal fruto do vírus de Ébola em Lagos, a Arik Air vai interromper as ligações aéreas à Monróvia (Libéria) e a Freetown (Serra Leoa) a partir de 28 de Julho”, esta segunda-feira, informou a transportadora aérea, em comunicado.

Identificado pela primeira vez na década de 1970 no Zaire (actual República Democrática do Congo) e no Sudão, o vírus transmite-se directamente pelo contacto com o sangue, fluidos ou tecidos corporais de pessoas e animais infectados e é mortal em 90% dos casos, tendo porém melhor prognóstico quando é detectado atempadamente. A doença começa por provocar sintomas semelhantes aos da gripe: mal-estar geral, febre e dores de cabeça. A seguir, surgem sintomas mais graves, como vómitos, erupções cutâneas, diarreia hemorrágica. Só desde Fevereiro já morreram quase 700 pessoas devido ao ébola na África Ocidental – um número que faz com que este seja o surto mais mortal de sempre.

Este surto de ébola, que começou na Guiné-Conacri, já se espalhou para países como a Libéria e a Serra Leoa. Aliás, cerca de 100 das mortes foram precisamente na Libéria. O médico liberiano Samuel Brisbane, uma figura de destaque no país, foi uma das vítimas mortais. Também se soube que o médico norte-americano Kent Brantly, que trabalhava em Monrovia com doentes infectados pelo vírus, foi contagiado e que está a ser tratado.

Curandeiros e funerais tradicionais
Da Serra Leoa também chegam mais casos que têm gerado preocupação. Uma mulher que tinha fugido do hospital depois das análises confirmarem que estava infectada acabou por morrer numa ambulância quando regressava para a unidade de saúde depois de ter sido interceptada pela polícia, diz a BBC. Saudatu Koroma, o primeiro caso confirmado na capital do país, Freetown, tinha saído do hospital na quinta-feira com a ajuda de familiares para procurar ajuda num curandeiro, explica a Reuters.

Num país onde já morreram mais de 450 pessoas neste surto da doença, a maior confiança nas medicinas alternativas por parte da população tem dificultado o trabalho das autoridades de saúde. Centenas de pessoas têm tentado cercar os hospitais em protesto e tentam ajudar os doentes a fugir, pelo que a polícia está a utilizar gás lacrimogéneo para controlar a situação. Os funerais tradicionais, em que o corpo é lavado em vez de cremado, têm também contribuído para que a doença se espalhe.

Já no final de Junho, a OMS tinha alertado os países vizinhos da Guiné-Conacri para a importância de se prepararem para uma chegada quase certa do ébola. A própria Guiné Bissau também já está na linha de risco da epidemia. Na altura, a OMS considerou também que o elevado número de vítimas se está a dever ao recuo em medidas de prevenção por parte dos diferentes países.

“Há uma necessidade urgente de intensificar os esforços de resposta à doença, promover a partilha de informação sobre casos suspeitos e mobilizar todos os sectores da comunidade”, afirmou o director regional para África da OMS, Luís Sambo, acrescentando, porém, que ainda não estão a ser equacionadas restrições em termos de viagens. Antes, já os próprios Médicos Sem Fronteiras, que contam com cerca de 150 especialistas a trabalhar nas zonas onde há febre hemorrágica, tinham feito um alerta sobre o vírus que consideraram estar “descontrolado”.

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