Primeiro "bebé-prisão" de Gaza deve nascer em Janeiro
Hassan foi gerado com esperma levado à socapa da prisão, garantem a mãe e o centro de fertilização palestiniano. Na Cisjordânia há outros casos. Israelitas duvidam.
Hassan vai ser o primeiro “bebé-prisão” nascido em Gaza - será um rapaz e já tem nome escolhido. Mas não é caso único nos territórios palestinianos. Vai juntar-se a pelo menos três outras crianças nascidas na Cisjordânia, em resultado do contrabando de esperma, fomentado pelo interesse de mulheres que querem ter filhos de maridos presos – actualmente serão dezenas nessa situação, segundo o jornal.
O caso, agora retomado pelo diário britânico, foi noticiado em Maio – quando a gravidez foi confirmada – pelo site Al-monitor, especializado em assuntos do Médio Oriente.
A gestação de Hassan não é um milagre dos tempos modernos, resulta da combinação da ciência com velhos estratagemas. Foi concebido com o apoio de uma equipa médica depois de o esperma de Tamer ter sido levado do interior de uma prisão israelita e ter fecundado um ovo recolhido em Hana numa clínica, em Gaza. O embrião foi depois transplantado para o útero da mulher, explicaram os envolvidos.
Abdul-Karim al-Hindawi, médico que estudou na Rússia, que faz parte da equipa que presta ajuda sobre fertilização in vitro a preços reduzidos ou gratuitamente, contou como decorreu o processo de gravidez de Hana al-Za’anin, 26 anos. “Ela é como qualquer outra mulher que quer engravidar. A única dificuldade foi conseguir o esperma. Demorou cerca de seis horas até chegar a nós, e é invulgar o esperma estar fora do corpo durante tanto tempo”, afirmou, numa clínica privada da Cidade de Gaza.
“Demos alguns conselhos à família sobre o modo de o acondicionar. A melhor forma é embrulhá-lo em plástico ou num pequeno frasco e transportá-lo entre os seios, onde está quente e escuro. Depois congelamo-lo assim que chega”, disse.
A jovem e os sogros foram contidos na revelação de pormenores sobre o modo como o esperma do marido saiu da cadeia. O jornal adianta que podem ter tido ajuda de outra família para essa fase do processo.
Para Israel não há provas
A futura mãe decidiu pedir ajuda ao centro de fertilização Basma depois de ter ouvido falar no caso de um "bebé-prisão" nascido na Cisjordânia. Hana, que não vê o marido desde que ele foi condenado a 12 anos de prisão por pertencer à Jihad Islâmica, pouco mais de três meses depois de terem casado, em Julho de 2006, falou com ele sobre o assunto, por telefone.
“Ficou surpreendido por ter falado nisso. Também tinha ouvido falar no assunto e quis perguntar-me o que achava, mas pensou que as pessoas podiam estranhar eu estar grávida com o meu marido na prisão. Quando lhe perguntei, concordou imediatamente”, disse.
Em Nablus, na Cisjordânia, o especialista em fertilização Salem Abu Khaizaran garante que já ajudou mulheres de prisioneiros a engravidarem. Três bebés, todos rapazes, nasceram, segundo o Guardian, no centro médico Razan. Em Maio, o Al-Monitor anunciava que os casos de gravidez com êxito recorrendo a este procedimento eram, na Cisjordânia, cinco.
Comentando os casos da Cisjordânia e o de Gaza, uma porta-voz dos serviços prisionais israelitas disse que não há prova de o esperma ter sido levado para o exterior de prisões. “Duvidamos que isso possa ter acontecido devido à segurança e às regras para visitantes de prisioneiros palestinianos. Duvidamos que alguém possa engravidar dessa maneira.”
Dados da Addameer, uma organização palestiniana defensora dos direitos dos prisioneiros, indicam que no mês passado estavam presos 5007 palestinianos em cadeias israelitas. Entre eles 12 mulheres e 180 menores. Na prisão, juntamente com o marido, Hana tem dois irmãos. Um terceiro foi morto em 2004.
Já depois de estar grávida Hana al-Za’anin foi autorizada a visitar o marido, Tamer, 28 anos. Recusou, com medo que o raio X e outros aparelhos de controlo dos visitantes afectassem o feto. Espera agora poder levar Hassan a conhecer o pai.