Presidente Napolitano assume a liderança da formação do próximo governo italiano

Tudo apontando para a indigitação de um primeiro-ministro para dirigir um “governo de objectivo.

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Pier Luigi Bersani ficou num beco sem saída Marco Bucco/Reuters

Bersani declarou aos jornalistas que apresentou ao PR as conclusões das consultas políticas, tendo recusado “algumas condições inaceitáveis” postas por vários partidos. Hoje, todos os grupos parlamentares irão ao Quirinal.

A decisão do PR era previsível, tudo apontando para a indigitação de um primeiro-ministro para dirigir um “governo de objectivo”, ou seja, para responder à crise financeira e económica e proceder às reformas institucionais urgentes, a começar pela lei eleitoral.

No dia 22, Napolitano deu a Bersani um “mandato exploratório” para reunir uma maioria parlamentar clara. Não aceitava o “salto no escuro” de um governo minoritário, dependente dos humores de Beppe Grillo ou dos interesses de Silvio Berlusconi. No entanto, o líder do PD apostou num executivo minoritário e em acordos pontuais no Senado, com base num cálculo simples: a maioria dos partidos não tem interesse em eleições imediatas, em Junho ou Outubro. O PR, cujo mandato expira a 15 de Maio, não pode dissolver o Parlamento. Novas eleições só poderão ser convocadas pelo sucessor.

Vetos cruzados
A “política à italiana” que se instalou após as eleições de Fevereiro pode ser resumida assim: Bersani rejeita um governo com Berlusconi e quer um acordo com o Movimento 5 Estrelas (M5S), de Grillo; este não só recusa tal acordo como a mera hipótese do voto de confiança num governo do PD ou qualquer outro; Berlusconi oferece uma “grande coligação” ao PD, que a não pode aceitar porque seria um suicídio político: só beneficiaria Grillo. Bersani imaginou contornar as dificuldades, tentando dividir o M5S e abrindo uma ponte de diálogo com Berlusconi. Contava com o apoio dos centristas de Mario Monti e da Liga Norte, aliada de Berlusconi mas que não quer eleições imediatas a nenhum preço.

Grillo anulou na quarta-feira a derradeira ilusão de Bersani. Uma sondagem indicava que metade dos seus eleitores seriam favoráveis a votar a confiança num governo com um programa de reformas radicais, o que Bersani prometeu. Mas Grillo exigiu que a negociação entre as duas formações decorresse em directo (streaming) na Internet. Bersani aceitou. Não houve qualquer discussão mas dois discursos fechados. A “transparência” apenas serviu para Grillo controlar os seus parlamentares — depois da desobediência de uma dezena de senadores na eleição do presidente do Senado. A seguir, o comediante “queimou as pontes”, insultando Bersani e outros políticos no seu blogue, tratando-os de “padri puttaniere” — não se cita o resto por respeito do Livro de Estilo.

Grillo não tem interesse em negociar. O seu objectivo é a implosão do sistema político. Acusado de “irresponsabilidade”, respondeu ontem com provocação: não é preciso um novo governo e Monti continuará a gerir os assuntos correntes, porque “o Parlamento é soberano” e não precisa de governo para fazer reformas e “mudar a Itália”.

À medida que Bersani entrava num “beco sem saída”, imaginou separar a investidura do governo e as reformas. Estas ficariam a cargo de uma “convenção”, de parlamentares e outras figuras, devendo ser presidida por um representante do partido de Berlusconi.

Póquer com Berlusconi
Começou uma partida de póquer, com o Cavaliere a distribuir as cartas. Não lhe interessa o governo, interessam-lhe o “direito de veto” sobre o ministro da Justiça e, sobretudo, o nome do próximo Presidente da República. Quer — dizem os adversários — um “PR salvo-conduto”. Bersani aceitaria designar um candidato não hostil a Berlusconi. Mas o Cavaliere exigiu ser ele a escolher o nome. O negócio era: a ti o Governo, a mim a presidência. Mas podiam confiar um no outro. Berlusconi diz: o nome primeiro, a confiança depois; Bersani queria o inverso. A partir deste momento, a iniciativa de Bersani estava condenada.

O PD não podia aceitar esta condição: o PR tem um mandato de sete anos e tornou-se numa peça central no sistema. Seria uma rendição a Berlusconi.

Os investidores estão nervosíssimos. “Enquanto os partidos se desentendem e os mercados se enfurecem, as chancelarias alarmam-se, as empresas fogem, os desempregados crescem e a rua murmura. A Itália transforma-se num alvo de tiro”, adverte o constitucionalista Michele Ainis. Por isso Napolitano lançou-se num desesperado contra-relógio: quer que o seu sucessor tome posse com um governo em funções e, tanto quanto possível, estável.

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