Presidente húngaro acusado de plágio na tese de doutoramento
O comité académico responsável pela investigação concluiu que o documento, de 215 páginas, foi quase integralmente copiado de outros textos académicos. Mas não condena o chefe de Estado, que em 1992 se doutorou em Educação Física (Pál Schmitt, de 69 anos, é um antigo campeão olímpico de esgrima). Se há um culpado, entende o comité, é a universidade.
“O processo [de atribuição] de doutoramento – apesar das referidas falhas – foi formalmente de acordo com a prática da Universidade de Ciências Desportivas, que na altura funcionava de forma independente. O trabalho baseia-se de forma pouco comum em grandes quantidades de texto traduzido na íntegra, o que não se sabia na altura, apesar de isso dever fazer parte do processo. A Universidade de Ciências Desportivas cometeu erros profissionais por não ter descoberto a identidade desses textos a tempo, possivelmente dando a entender ao autor que a sua dissertação preenchia os requisitos”, avaliou o comité, segundo o Budapest Times.
A citação faz parte do sumário de três páginas do relatório que foi entregue, na terça-feira, ao ministro dos Recursos Nacionais, Miklós Réthelyi, originalmente com 1157 páginas. Inicialmente, o gabinete ministerial não divulgou a opinião do único elemento do comité que se opôs a esta conclusão, o advogado Ákos Fluck. Mas esta acabou por ser publicitada, já na quarta-feira ao final do dia.
Antes de chegar à Presidência, Pál Schmitt integrava o Fidesz, o partido conservador que governa a Hungria com maioria absoluta, que é acusado de querer silenciar a oposição nos media e que, no plano externo, tem tentado desvincular o país das políticas comunitárias da União Europeia. Foi eleito em 2010 e, com poderes idênticos aos do Presidente português na promulgação de leis, não vetou ou levantou dúvidas a nenhuma das 350 propostas legislativas.
O primeiro-ministro, Viktor Orbán, o mais destacado apoiante de Schmitt na corrida à Presidência, recusa tomar uma posição sobre o assunto. “Só ele pode decidir o que fazer”, disse, nesta sexta-feira, no seu espaço radiofónico semanal. Orbán referia-se à demissão do Presidente, algo que tem sido exigido declaradamente pela oposição e sugerido implicitamente por quem habitualmente partilha as suas cores políticas.
O Budapest Times escreve: “É inconcebível que a conclusão do escândalo de plágio que se tem desenrolado desde Janeiro seja outra que não a sua demissão”. Ákos Fluck, que se opôs à conclusão redigida pelos outros quatro elementos que integravam o comité de avaliação (académicos, os quatro), disse que essa era uma questão política e que não se pronunciaria sobre o assunto. “Naturalmente, tenho uma opinião pessoal sobre o caso”, acrescentou.
O senado da universidade, reunido nesta quinta-feira, teve poucas dúvidas em retirar o grau de doutor – e decidiu fazê-lo por esmagadora maioria, de 33 votos favoráveis contra quatro. Pál Schmitt recusa as acusações, mas está a evitar aparecer publicamente. A polémica já o levou a cancelar um encontro diplomático com o ministro dos Negócios Estrangeiros da Eslováquia, Mikulás Dzurinda, de visita à Hungria, e uma cerimónia no Parlamento húngaro.