Presidente do Irão promete: “Nunca iremos desenvolver armas nucleares”
Hassan Rouhani mostra abertura para negociar programa nuclear com Estados Unidos e diz que enviou carta “positiva e construtiva” a Obama.
Na mesma entrevista, a primeira com um meio norte-americano desde que foi eleito em Junho, Hassan Rouhani garantiu que tem total legitimidade e autoridade para negociar com o Ocidente o controverso programa de enriquecimento de urânio de Teerão, mas descreveu a última carta que enviou ao Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, como “positiva e construtiva”.
“O problema não estará do nosso lado”, garantiu o governante, que já antes tinha dado alguns sinais de abertura e de vontade de negociar com Washington ao libertar dez prisioneiros políticos e o advogado dedicado a causas de direitos humanos Nasrin Sotoudeh, escreve a BBC.
“Em nenhumas circunstâncias nós iremos construir armas de destruição em massa, incluindo armas nucleares, nunca iremos”, repetiu o Presidente iraniano à NBC, assegurando que todo o investimento está longe de passar por bombas nucleares.
Hassan Rouhani referiu-se também a uma carta que Obama lhe enviou quando foi eleito em Junho, como uma prova da abertura de ambos os países para seguirem em frente. Na quarta-feira, o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, confirmou que Obama disse a Rouhani que os Estados Unidos estavam abertos a resolver o impasse nuclear com o Irão, caso o país provasse que o seu programa nuclear tem apenas objectivos pacíficos. Porém, na mesma missiva, o líder norte-americano deixou claro que as janelas diplomáticas não podem ficar indefinidamente abertas.
Questionado pela NBC sobre o mesmo problema com armas químicas na Síria – numa altura em que as tensões internacionais continuam em alta devido à morte em Agosto de centenas de pessoas no país, na sequência de um ataque com armas químicas –, Hassan Rouhani disse que não governa aquele país e que, por isso, só se pode pronunciar em relação ao Irão, apesar de defender a mesma posição para toda a região.
NATO aplaude abertura
Em reacção às declarações do Presidente iraniano, o secretário-geral da NATO, Anders Fogh Rasmussen, congratulou-se com a disponibilidade de Rohani para “colaborar com a comunidade internacional”.
O responsável, citado pela AFP, que falava nesta quinta-feira à margem de um encontro em Bruxelas, acredita que este pode ser um passo no sentido de se resolver o problema diplomático relacionado com o armamento nuclear.
O tema deverá voltar a ser abordado por Rohani com os responsáveis ocidentes à margem da assembleia-geral das Nações Unidas que vai decorrer na próxima semana em Nova Iorque.
Mais sanções
As declarações do Presidente iraniano surgem depois de no final de Agosto as Nações Unidas terem vindo dizer que o Irão tem instaladas 1008 centrifugadoras de nova geração — há três meses eram 700 —, aumentando assim a capacidade do seu programa nuclear.
As informações que constavam do novo relatório da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), o primeiro desde a tomada de posse do Presidente Hassan Rouhani, levaram a que os Estados Unidos pedissem mais sanções no Congresso.
O relatório desapontou também quem, nas capitais ocidentais, esperasse um congelamento ou inversão de marcha no programa que os iranianos garantem ter fins puramente civis e que grande parte do resto do mundo desconfia que possa ter objectivos militares.
O relatório da agência das Nações Unidas acrescentava ainda que a República Islâmica começou a produzir combustível nuclear para um reactor que o Ocidente teme que possa ter material para uma bomba nuclear.
Mas há algumas boas notícias para quem esperava uma diminuição da actividade do programa de energia atómica: o reactor de Arak terá visto a validação para a sua entrada em funcionamento adiada, deste ano, como estava previsto, para 2014. E o stock nuclear mais sensível do país não aumentou depois do último relatório, diz ainda a AIEA: cerca de 240 quilos de combustível enriquecido a 20% (para uma arma nuclear é preciso um enriquecimento a 90%). Ainda está abaixo da “linha vermelha” estabelecida por Israel, o limite que levaria o Estado hebraico a uma acção contra o seu arqui-inimigo.
Há quem veja esta aparente restrição como um meio de o Irão ganhar tempo antes das conversações que se aproximam. Desde 2012 houve dez rondas de negociações com um grupo de países, todas sem resultados.