Plano para levar armas químicas para fora da Síria ameaçado por recusas de vários países

Calendário aprovado pela OPAQ prevê que compostos mais sensíveis sejam retirados de território sírio até ao final do ano, mas depois da Albânia também a Bélgica recusou recebê-los. Transporte das armas representa pesadelo de segurança.

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Os protestos na Albânia levaram o Governo a dizer não ao pedido dos EUA Arben Celi/reuters

“A próxima fase é a mais desafiadora e a sua execução nos prazos previstos vai exigir a existência de um clima de segurança para a verificação e transporte das armas químicas”, admitiu o director-geral da Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ), Ahmet Umzucu, no final da reunião, na sexta-feira em Haia, em que foi aprovado o roteiro para a destruição das 1300 toneladas de químicos e munições que o regime sírio foi reunindo ao longo de três décadas.

O calendário aprovado prevê que até 5 de Fevereiro todos os rockets, agentes tóxicos e precursores (os químicos usados no fabrico das armas) sejam levados por via marítima para fora da Síria, a fim de serem destruídos em segurança até ao final de Junho de 2014, o prazo previsto pela resolução do Conselho de Segurança da ONU. A única excepção será o isopropanol, um composto usado para fabricar gás sarin mas que é usado também como solvente na indústria. A OPAQ quer que os componentes mais sensíveis sejam os primeiros a ser removidos, o que deverá ser efectuado nas próximas seis semanas.

Mas ainda antes de aprovada a resolução, o Governo albanês anunciou que não estava disponível para receber as armas químicas no seu território, alegando não ter nem os meios nem a capacidade técnica exigida para aceitar o pedido que lhe tinha sido feito pelos Estados Unidos. O país é membro da NATO e, em 2004, eliminou 16 toneladas de armas químicas que herdara do anterior regime comunista. Mas a compensação financeira que lhe foi prometida por Washington, de quem o país é um aliado tradicionalmente inquestionável, não foi suficiente para convencer os albaneses, e o primeiro-ministro, Edi Rama, acabou por ceder aos protestos das ruas.

Já nesta segunda-feira, a Bélgica, outro dos países que terão sido abordados para receber as armas sírias, anunciou a sua resposta. “Queremos fazer um esforço e contribuir, mas fazer isso aqui, à primeira vista, não é algo a que sejamos favoráveis”, respondeu o ministro da Defesa, Pieter De Crem. A Noruega foi, há já várias semanas, o primeiro país a recusar o pedido de Washington, mas ofereceu-se para enviar um cargueiro e uma escolta militar para retirar as armas da Síria.

Perigo de emboscadas
Se o problema do transporte ficou resolvido, continua por definir o local onde será executada a destruição, até porque nem a Rússia e nem os EUA, os autores do acordo que convenceu o Presidente Bashar al-Assad a prescindir das armas químicas, dizem poder receber o arsenal: Moscovo está muito atrasada na destruição do seu próprio stock e a lei americana proíbe a importação de armas químicas.

Mas há um problema mais imediato e maior para a execução do plano. O transporte das armas dos 23 locais onde estão armazenadas até ao Mediterrâneo é uma tarefa arriscada – há o risco de derrame durante a viagem – que se torna imensa estando o país em guerra. Fontes do Pentágono contaram ao New York Times que receiam que as colunas de camiões sejam atacadas durante a viagem, quer por unidades rebeldes quer por grupos jihadistas interessados em apoderar-se dos compostos, mas não têm qualquer plano B para a operação. A Reuters noticiou entretanto que o Exército sírio, que será responsável pela segurança do transporte, lançou uma ofensiva nas montanhas em redor da auto-estrada que liga Damasco à costa e que deverá ser usada para transportar as armas.

Washington preferia que os arsenais sírios fossem destruídos dentro do país, mas a opção acabou por ser abandonada já que nenhum país se prontificou a enviar as tropas que seriam necessárias para garantir a segurança dos inspectores internacionais. “Podíamos deixar o material no lugar e esperar pelo melhor ou verificá-lo e levá-lo para fora da Síria e esperar pelo melhor. E esta é a hipótese menos má”, disse ao jornal um responsável envolvido nas negociações.
 
 
 
 

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