Pequeno partido diz "não" a Mas e força novas eleições na Catalunha
Sem o apoio da CUP, Artur Mas não pode presidir à Generalitat catalã.
Os catalães deverão voltar às urnas em Março para recompor o seu parlamento regional, dominado pela coligação independentista Juntos pelo Sim, e decidir (definitivamente) quem presidirá ao governo regional autonómico – a não ser que uma solução "milagrosa" para ultrapassar a incerteza e divisão da bancada nacionalista, alimentada pela permanência no cargo do actual presidente da Generalitat, Artur Mas, surja inesperadamente antes de 10 de Janeiro.
"Ainda falta uma semana", assinalou a cúpula da Candidatura de Unidade Popular (CUP), o pequeno partido nacionalista e anticapitalista que este domingo desfez o impasse relativamente à viabilização de um novo mandato de Artur Mas à frente do governo da Catalunha. Por decisão do conselho político da CUP, os seus dez deputados vão votar "não" se o parlament agendar uma nova votação plenária para a investidura de Mas – cuja realização parece, agora, totalmente descabida.
O presidente da Generalitat ainda em funções precisava do apoio de pelo menos dois dos dez deputados da CUP, uma vez que nas eleições de Setembro, a sua aliança independentista falhou a maioria absoluta no parlament. Anteriores votações para a viabilização de um novo mandato de Mas à frente do governo fracassaram; o estatuto regional determina que se não houver acordo para a nomeação de um novo presidente, procede-se à dissolução automática do parlamento e a convocação de novas eleições autonómicas – que deverão ser marcadas para a primeira quinzena de Março.
Este domingo, em vez de assumir o ónus pela convocação de novas eleições – as quartas em cinco anos –, os radicais da CUP insistiam que esse cenário ainda podia ser evitado. Basta, para isso, que a coligação Juntos pelo Sim aceite fazer aquilo que até agora recusou: deixe cair a recondução de Artur Mas, no poder desde 2010, e proponha outro nome para a presidência da Generalitat – por exemplo o seu cabeça de lista, Raul Romeva. Se isso acontecer, a CUP está disponível para viabilizar o novo governo regional sem voltar a consultar as suas estruturas.
"Dissemos que não a quem tínhamos que dizer não", resumiu a deputada Gabriela Serra, que não deixou de lamentar os altos custos pessoais do complexo e demorado processo de debate e voto interno, em sucessivas assembleias locais e territoriais de apoiantes do partido (na derradeira consulta aos militantes, no sábado à noite, a recondução de Artur Mas foi rejeitada por uma margem mínima de seis votos; entre os membros do conselho político e do grupo de acção parlamentar, a diferença foi de quatro votos). "Este resultado não nos provoca nenhuma satisfação porque não é o cenário que preferimos. Sempre defendemos que se pode fazer melhor, e continuamos convencidos de que nos próximos dias ainda se pode encontrar uma solução [para o impasse]", considerou Serra.
Em declarações depois de confirmado o "não" definitivo à posse de Artur Mas, Sergi Saladié, um dos deputados da CUP, lembrava que "nas eleições de 27 de Setembro o que se votava era a independência, não era Mas sim, ou Mas não". Segundo a sua interpretação dos resultados dessa votação, "obtivemos uma maioria absoluta para avançar no sentido da independência, e não um consenso em relação e este candidato" – a CUP não quer reduzir a crise à sua oposição a Artur Mas, e não quer que a sua decisão possa ser dramatizada como o pó na engrenagem do processo independentista. "Quem disse que não seria um obstáculo à independência foi o próprio Artur Mas", recordou Saladié.
Do líder catalão ainda não se ouviu uma palavra. No entanto, as primeiras declarações dos dirigentes dos partidos que compõem a Juntos pelo Sim indicam que as eleições são irreversíveis. "Para nós não é uma questão de pessoas mas sim do que elas representam", disseram fontes da Convergência Democrática da Catalunha à agência Efe, garantindo que não tencionam apresentar um nome alternativo ao de Mas. No Twitter, a presidente do parlament, Carme Forcadell, lamentava a postura da CUP que, segundo escreveu, "sempre acreditei ajudaria a tornar realidade o mandato democrático de 27 de Setembro". "Enganei-me e muito", admitiu.
A reacção oficial do Governo de Espanha (em funções) foi cautelosa: o executivo liderado por Mariano Rajoy disse que, perante os últimos desenvolvimentos, a sua expectativa era de uma repetição do processo eleitoral na Catalunha. "Mas temos de aguardar", salvaguardou o porta-voz da Moncloa, sublinhando que, seja qual for a solução encontrada para a crise política na região, o Governo de Madrid continuará a defender a unidade de Espanha e a soberania nacional, a igualdade entre espanhóis e a primazia da lei. A declaração não nomeia, mas remete, para a decisão do tribunal Constitucional que anulou a declaração independentista aprovada no parlament catalão em Novembro passado.
Segundo os jornais espanhóis, as novas eleições na Catalunha permitem a quem vier a assumir a liderança do Governo de Espanha "ganhar um tempo precioso ante o processo independentista". Mas, ao mesmo tempo, introduzem um novo factor nas discussões de alianças para a constituição do novo executivo.