Papa denuncia "capitalismo desregrado" como uma ameaça à paz
Bento XVI disse esperar que 2013 seja um ano de paz, apesar das riscos e ameaças, e louvou os que em todo o mundo trabalham pela concórdia
“Cada ano novo traz consigo a expectativa de um mundo melhor. Com a luz e a graça de Deus, possa este ser o início de um novo caminho para cada pessoa, cada família, cada país e para o mundo inteiro”, exortou o Papa na mensagem de Ano Novo proferida da varanda sobranceira à Praça de São Pedro, repleta de fiéis para as celebrações do dia que a Igreja Católica assinala como Dia Mundial da Paz. Enquanto Bento XVI falava participantes numa marcha pela paz que terminou no Vaticano libertaram balões azuis com a pomba branca.
Numa mensagem que disse ter sido inspirada pelo louvor de Cristo a quem trabalha pela paz, – “Bem-aventurados os obreiros da paz, porque serão chamados filhos de Deus” –, o Papa enalteceu aqueles que em todo o mundo se dedicam a promover a concórdia, muitas vezes longe dos olhares públicos, incansavelmente e sem reconhecimento, armados “apenas com as armas da oração e do perdão”.
Mas 2013 começa com heranças pesadas, seja a recessão que ameaça a Europa, sobretudo a católica do Sul, seja a guerra que devasta a Síria, conflito que em menos de dois anos terá causado perto de 50 mil mortos, abeirando o país da ruína e ameaçando a estabilidade de todo o Médio Oriente. Ameaças que Bento XVI reconheceu e que, a par dos fanatismos religiosos, do terrorismo e da criminalidade internacional, exigem um “renovado empenho na busca do bem comum”.
Entre todos os males que afligem o mundo, o Papa dedicou especial atenção aos “focos de tensão e conflito causados por crescentes desigualdades entre ricos e pobres, pelo predomínio duma mentalidade egoísta e individualista que se exprime inclusivamente por um capitalismo financeiro desregrado”.
Num momento em que a Europa debate formas de ultrapassar a crise, o Sumo Pontífice denunciou “as ideologias do liberalismo radical e da tecnocracia” que insinuam “que o crescimento económico se deve conseguir mesmo à custa da erosão da função social do Estado, […] bem como dos direitos e deveres sociais”. Considerando que “o direito ao trabalho é um dos mais ameaçados”, Bento XVI pede “novas e ousadas políticas” que reconheçam o emprego “como bem fundamental para a pessoa, a família, a sociedade” e não como “uma variável dependente dos mecanismos económicos e financeiros”.
Antes, na homília de Ano Novo, o Papa desafiara os crentes a procurar junto de Deus a “paz interior necessária a tempos da história que são por vezes tumultuosos e confusão”. Houve também tempo para reafirmar a oposição do Vaticano ao casamento entre pessoas do mesmo sexo – que desestabilizam a “insubstituível função social” da união entre um homem e uma mulher – e à legalização do aborto – “Como se pode pensar em realizar a paz, o desenvolvimento integral dos povos ou a própria salvaguarda do ambiente, sem estar tutelado o direito à vida dos mais frágeis, a começar pelos nascituros”.