Em Sochi, os anéis olímpicos foram só quatro mas na televisão russa viram-se cinco

Cerimónia de inauguração dos Jogos Olímpicos de Inverno teve piscadelas de olho gay

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Cavalos gigantes virtuais cavalgaram no estádio Fisht Mark Blinch/REUTERS
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As cúpulas do Kremlin foram transformadas em balões Mark Blinch/REUTERS
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As ilhas flutuantes virtuais que se formaram no estádio Fisht Mark Blinch/REUTERS
Quatro anéis olímpicos...e uma estrela
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Quatro anéis olímpicos...e uma estrela Brian Snyder/REUTERS
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Duas das mascotes dos Jogos, o leopardo-da-pérsia e o urso polar, em versão boneco gigante Jim Young/REUTERS
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Arthur Hanse, o porta-estandarte da delegação portuguesa Jim Young/REUTERS
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Pormenor do espectáculo de abertura Mark Blinch/REUTERS
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A delegação alemã deve ter o fato mais colorido da noite ADRIAN DENNIS/AFP
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Ban Ki-moon, o presidente do Comité Olímpico Internacional e Vladimir Putin ALBERTO PIZZOLI/AFP

Nos Jogos Olímpicos mais caros de sempre – 50 mil milhões de dólares ou 37 mil milhões de euros – Vladimir Putin quer mostrar o esplendor da nova Rússia, a sua Rússia, que governa com uma mão cada vez mais poderosa há 14 anos. Assim, os espectadores do maior canal de televisão russo, o Pervyi Kanal, não notaram a falha técnica, porque as imagens do que se passava no estádio Fisht, em Sochi, eram transmitidas com um atraso de 15 segundos, e o erro foi artificialmente corrigido.

O espectáculo continuou, com uma intenção de deslumbrar, sob o tema da “Rússia eterna”, contando a história da Rússia como se fosse o sonho de uma criança. Ilhas flutuantes e virtuais, que surgem no meio de um intenso nevoeiro, as coloridas cúpulas do Kremlin transformadas em balões e a cena do baile do romance Guerra e Paz de Tolstoi serviram para montar um espectáculo onde foram recordados símbolos comunistas como a foice e o martelo – mas não Estaline, o primeiro líder comunista a ter a sua casa de Verão em Sochi e a criar o turismo de massas naquela estância balnear subtropical.

Uma nota algo estranha: quando de Sochi estão a ser aproveitados para pressionar a Rússia por causa da recente lei que criminaliza a “propaganda homossexual” junto de menores, o espectáculo contou com a actuação do duo falsamente lésbico t.A.T.u. – duas cantoras que chegaram a representar a Rússia no Festival da Eurovisão, onde se beijavam na boca. Mas acabou por se revelar que não eram lésbicas, era só um golpe de marketing. A organização dos Jogos justifica a escolha dizendo que são o grupo russo mais conhecido internacionalmente.

Outro pormenor curioso: os atletas russos entraram no stádio Fisht ao som da música dos Queen We are the Champions. Ninguém os terá avisado sobre as preferências sexuais do vocalista Freddie Mercury?

No dia da inauguração dos Jogos de Sochi, o ícone do motor de busca Google vestiu-se com as cores do arco-íris, que são também as cores do movimento de luta pelos direitos dos homossexuais em todo o mundo, e publicou um artigo da Carta Olímpica que exclui a discriminação: “A prática do desporto é um direito humano. Todos os indivíduos devem ter a possibilidade de praticar desporto, sem discriminação de qualquer tipo no espírito olímpico, que exige respeito mútuo com um espírito de amizade, solidariedade e fair play”.

É este artigo que está a ser citado para sublinhar que a homofobia não deve ter lugar nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, nem na Rússia – embora nesta sexta-feira tenham sido presos quatro activistas dos direitos dos homossexuais em São Petersburgo.

O presidente do Comité Olímpico Internacional COI), Thomas Bach, apanhou esta mensagem quando falou, no fim da cerimónia – embora de forma ligeira, pois o COI tem tido o cuidado de não afrontar Putin. “Os Jogos Olímpicos não podem ser acerca de levantar paredes. São um festival de desporto que celebra a diversidade humana em grande unidade. Por isso, peço aos líderes políticos mundiais, obrigado por apoiarem os atletas, eles são os melhores embaixadores dos vossos países.”

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