Presidente turco manda a polícia retirar-se da Praça Taksim
Abdullah Gul tenta acalmar os ânimos e conter violência policial. Antes, o primeiro-ministro tinha ordenado aos manifestantes que pediam a demissão do Governo que se retirassem "imediatamente".
Os manifestantes não querem que o parque seja demolido para dar lugar à reconstrução de uma caserna dos tempos do Império Otomano e à construção de um centro comercial – um projecto caro ao primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, que prometeu que não recuaria nas suas intenções e, em vez de mandar a polícia retirar-se, ordenou à multidão que "parasse imediatamente com os protestos".
Erdogan acusou os manifestantes de terem motivações "ideológicas e não ambientais", ao concentrarem-se no parque. O chefe do Governo do Partido do Desenvolvimento e da Justiça – uma formação política conservadora de inspiração islâmica, no poder há dez anos – garantia que não desistiria do projecto de renovação da praça Taksim.
Mas o chefe de Estado, que era do partido de Erdogan até se candidatar à presidência, divulgou uma declaração escrita em que afirma que as forças de segurança deveria agir de forma mais cautelosa do que o habitual, deveriam ser sensatos ao lidar com os manifestantes, e não deveriam permitir que acontecessem "cenas tristes", lê-se no site em inglês do jornal turco Hurriyet.
A tensão tem vindo a crescer nos últimos cinco dias – desde que começou o movimento "Occupy Gezi", ao estilo dos que desde 2011 têm surgido um pouco por todo o mundo.
Os manifestantes tomaram o parque em protesto contra a sua destruição, mas na sexta-feira a polícia desalojou-os à força, o que chamou ao local políticos da oposição, artistas e intelectuais, que se solidarizaram com o movimento, num protesto contra o Governo de Erdogan, que tem imposto cada vez mais a sua moral conservadora e uma repressão cada vez intensa a uma sociedade que, embora sendo de maioria muçulmana, é laica.
Após confrontos ao princípio da noite em Istambul e noutras cidades, como Ancara, o sábado amanheceu com novos confrontos com a polícia, que tentou dispersar a manifestação com gás lacrimogéneo e canhões de água. Os confrontos espalharam-se pelas várias ruas que saem da praça.
A fúria é dirigida contra Erdogan e o seu partido, que tem aprovado medidas vistas pelos sectores mais moderados como atentados à liberdade. Na semana passada foi aprovada uma lei que torna muito difícil o consumo de bebidas alcoólicas na via pública: a lei proíbe a venda de álcool depois das 22h e interdita a sua venda nos arredores de escolas e mesquitas. Foi aprovada em nome da saúde dos cidadãos, segundo o Governo, mas a oposição vê-a como tendo motivos religiosos.
Houve também polémica sobre uma estação de metro de Ancara, onde um casal de namorados foi impedido de se beijar. Para este fim-de-semana estão programados também "protestos de beijos" em Istambul e Ancara.
A oposição viu nestes gestos um possível sinal de que o Governo e a maioria no Parlamento estão dispostos a "islamizar" a sociedade turca e acusou o partido no poder de violar as liberdades individuais.
Os manifestantes usam máscaras e lenços a tapar a cara e entoam cânticos como "Unidos contra o fascismo". Pedem a demissão do Governo de Recep Tayyip Erdogan, descreve a agência Reuters, num dos movimentos de protesto mais expressivos contra o poder desde a tomada de posse, em 2002. Também as cidades de Ancara e Esmirna foram palco de manifestações na sexta-feira contra o Governo.
Notícia corrigida às 11h40: canhões de água em vez de canos de água