Obama estende a mão ao Irão e promete dar uma hipótese à diplomacia

Presidente americano recordou "raízes profundas" da desconfiança entre os dois países, mas deu sinais positivos à abertura de Rohani para discutir programa nuclear iraniano.

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Obama voltou a pedir uma "resolução firme" para vincular a Síria ao acordo de eliminação dos seus arsenais químicos Stan Honda/AFP

Foi o quinto discurso de Obama na Assembleia Geral das Nações Unidas e desta vez as atenções estavam concentradas no que teria a dizer sobre a Síria – país que há poucas semanas admitia atacar – e como reagiria à abertura do novo Presidente iraniano, Hassan Rohani, para retomar as negociações sobre o controverso programa nuclear do país.

Sobre o conflito na Síria houve poucas novidades: Obama pediu ao Conselho de Segurança que aprove “uma resolução firme” para garantir que o regime de Bashar al-Assad cumpre o que ficou estabelecido no acordo entre a Rússia e os Estados Unidos, revelando toda a verdade sobre os seus arsenais químicos e criando condições para a sua destruição até meados do próximo ano. Sublinhou ainda que a guerra na Síria, que já provocou mais de cem mil mortos e seis milhões de deslocados, vai muito além do ataque de 21 de Agosto e anunciou que os EUA vão canalizar mais 340 milhões de dólares para ajuda humanitária à população.

Já sobre o Irão, Obama mostrou não só estar atento aos sinais enviados por Teerão, como deu também voz a algumas das velhas queixas dos iranianos.

Foi assim quando reconheceu, perante os líderes mundiais, o envolvimento da CIA no golpe que derrubou o popular primeiro-ministro  Mohammad Mosaddeg, em 1953, (confirmado por documentos confidenciais recentemente desclassificados). Foi também assim quando afirmou que as imagens dos ataques químicos na Síria recordaram ao mundo “as dezenas de milhares de iranianos envenenados” durante a guerra Irão-Iraque, um conflito em que Washington alinhou ao lado de Saddam Hussein e durante o qual Teerão afirma que foram usadas agentes neurotóxicos.

No seu discurso, admitiu que “não será possível ultrapassar de um dia para o outro esta história difícil” e as “raízes profundas” da desconfiança erguida entre os dois países, sem qualquer relação diplomática desde1979. Mas ainda que “os obstáculos sejam muito difíceis de ultrapassar, acredito convictamente que o caminho da diplomacia deve ser tentado”, afirmou Obama naquela que é a resposta mais clara à mão estendida por Rohani logo após a sua eleição, em Junho.

O Presidente norte-americano sublinhou, porém, que “as palavras conciliadoras” do novo dirigente moderado “devem ser acompanhadas de actos transparentes e verificáveis” e reafirmou que os EUA “estão determinados a impedir que [os iranianos] desenvolvam armas nuclares”. Ainda assim, garantiu, nas negociações que agora vão começar Washington não terá qualquer intuito de “conseguir uma mudança de regime” e “respeitará o direito dos iranianos a aceder a uma energia nuclear pacífica”.

No discurso, muito centrado na sua política para o Médio Oriente, o Presidente americano foi mais comedido sobre a situação no Egipto, onde o Exército derrubou o Presidente eleito e reprimiu as manifestações dos seus apoiantes islamistas, dizendo que a manutenção da ajuda de Washington ao país vai depender da rapidez com que for retomado o processo de transição para a democracia.

Semanas depois de ter admitido intervir na Síria à margem das Nações Unidas, onde um impasse no Conselho de Segurança dura há quase tanto o tempo como o conflito, o líder norte-americano disse que apesar de preferir agir no quadro multilateral, está preparado para recorrer a todos os meios, incluindo militares, para defender os interesses dos EUA nos Médio Oriente e defender o país de quaisquer ameaças terroristas.

Hollande em sintonia com Obama
Pouco depois, subiu ao mesmo palanque François Hollande, o Presidente francês que nas últimas semanas surgiu como principal aliado da estratégia de Obama para o Médio Oriente. Nesta terça-feira em Nova Iorque voltou a mostrar-se alinhado com Washington ao saudar as declarações conciliadoras de Hassan Rohani, com quem se encontrará, à margem da Assembleia Geral. “Elas marcam uma evolução”, disse Hollande no plenário, antes de acrescentar “aquilo que a França espera agora do Irão são gestos concretos que testemunhem que o país renuncia ao seu programa nuclear militar”.

O Presidente francês, tal como Obama, pediu também que a resolução sobre a destruição dos arsenais de armas químicas da Síria, em discussão no Conselho de Segurança, inclua “medidas coercivas”, tal como previstas no Capítulo VII da Carta das Nações Unidas, para que o regime saiba que “se não cumprir as obrigações” terá de confrontar-se “com uma eventual acção armada”. A posição é, no entanto, rejeitada pela Rússia e da China, países que já vetaram até agora todas as resoluções apresentadas pelos ocidentais sobre a guerra na Síria.

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