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Obama e Merkel ainda apostam na diplomacia para resolver crise da Ucrânia

EUA apoiam iniciativa da chanceler alemã para pôr fim ao conflito no Leste da Ucrânia. Obama defende mais sanções contra a Rússia, e não exclui o envio de armamento para apoiar as forças ucranianas.

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Angela Merkel, que recebeu carta branca do líder norte-americano para prosseguir os seus esforços de mediação, Kevin Lamarque/REUTERS

A “agressão da Rússia na Ucrânia” foi o tema que dominou o encontro na Casa Branca entre Barack Obama e Angela Merkel, que recebeu carta branca do líder norte-americano para prosseguir os seus esforços de mediação, na defesa dos “princípios da integridade territorial” e da “ordem pacífica da Europa”. “No século XXI, não é aceitável que as fronteiras sejam redesenhadas pela força das armas”, frisou Obama.

Merkel explicou a Obama a sua relutância quanto ao envio de material de guerra para o auxílio das operações do Exército ucraniano contra os rebeldes separatistas apoiados por Moscovo. A solução para a crise, sustentou, jamais será alcançada pela via militar: só uma negociação política poderá resultar num acordo de paz entre os beligerantes.

Nesse sentido, uma decisão extemporânea teria o potencial de deitar por terra os esforços para reavivar o acordo de paz assinado em Setembro pela Ucrânia e a Rússia, e quase imediatamente comprometido pelos ataques no terreno. “Reconhecidamente, a via diplomática tem sofrido contratempos. Mas não vejo uma solução militar, por isso temos de prosseguir os nossos esforços e colaboração próxima para pôr  um fim ao conflito”, declarou a chanceler alemã.

Merkel deu conta dos progressos alcançados no domingo, na conferência telefónica que manteve com os Presidentes da Ucrânia, da Rússia e de França, o outro aliado europeu que assumiu a missão de mediação. Os quatro têm novo encontro marcado para quarta-feira na capital bielorrussa de Minsk, o palco das conversações de Setembro que resultaram num acordo de cessar-fogo cujos termos nunca chegaram a ser respeitados por nenhuma das partes.

Mas o Presidente americano está sob intensa pressão para intervir militarmente no conflito ucraniano: a maioria republicana no Congresso, e vários membros da Administração – como o secretário de Estado, John Kerry, e o futuro chefe do Pentágono, Ash Carter – defendem o envio de material bélico para Kiev, para deixar claro ao Presidente russo que os Estados Unidos “estão preparados para o que for preciso no seu apoio à soberania e integridade da Ucrânia”, como disse Kerry no programa da televisão NBC Meet the Press de domingo.

No entanto, fontes da Casa Branca garantiram à Reuters, antes da cimeira com Merkel, que Obama tenciona ser extra-cauteloso. “O Presidente quer analisar as suas opções com todo o cuidado e não tomar uma decisão precipitada”, frisaram. Após o encontro, o Presidente reconheceu que pediu à sua equipa para “avaliar todas as opções para mudar a opinião de Putin”. "Mas não tomei nenhuma decisão”, afirmou, garantindo não existir nenhuma “linha vermelha” que a ser ultrapassada precipitaria o envio de armas letais para a Ucrânia.

As opções
As opções de Obama resumem-se a uma escolha mais drástica pela assistência militar ao Governo de Kiev, correndo o risco de uma escalada significativa da violência e de uma reactivação da política de blocos da Guerra Fria; ou por uma alternativa mais “conservadora” que é manter-se no mesmo rumo, com um endurecimento das sanções contra a Rússia. Nesse caso, o pior que pode acontecer, afirmam os analistas, é que não produzam os resultados esperados, como aconteceu até agora. As medidas tomadas contra Moscovo depois da sua anexação da Crimeia não refrearam o apoio de Putin à causa separatista do Leste da Ucrânia.

“A Rússia já pagou um preço significativo pelas suas acções na Ucrânia. As sanções não levaram Putin a desistir, mas criaram um impacto muito negativo na economia russa, e essa pressão vai continuar”, afirmou Obama, em defesa dessas medidas. “A nossa preferência é por uma Rússia próspera e confiante, mas se [a Rússia] prosseguir pelo mesmo caminho, o seu isolamento só vai aumentar, política e economicamente”, prometeu o Presidente.

Porém, e perante a insistência dos jornalistas, Obama não excluiu categoricamente uma opção pelas medidas mais drásticas, “se as acções da Rússia me convencerem que não há nenhuma perspectiva de resolução diplomática da crise”. E até Angela Merkel admitiu que, “se a certa altura se perceber que o sucesso não é possível, exploraremos outras possibilidades”.

As movimentações diplomáticas não conseguiram travar as manobras no terreno: indiferentes às negociações, as forças separatistas intensificaram a sua ofensiva sobre Debaltsev, uma localidade de 26 mil pessoas a cerca de 70 quilómetros de Donetsk, o principal bastião dos rebeldes pró-russos. A cidade está debaixo de fogo de artilharia há sete meses, mas os combates dos últimos dias provocaram uma mini-crise humanitária, com milhares de pessoas a procurar refúgio em Slaviansk. Segundo o The New York Times, Debaltseve terá agora qualquer coisa como 3000 residentes, a maior parte idosos, que sobrevivem sem água, electricidade ou aquecimento há dez dias consecutivos.

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