O regresso do eixo franco-alemão
Merkel e Sarkozy tentam não perder o eleitorado, nem que seja à custa de perder o resto da Europa.
Foi a 18 de Outubro de 2010 que se dissiparam as dúvidas. Até então pensava-se (ou pelo menos fingia-se com algum pudor) que na Europa as decisões eram tomadas de uma forma democrática, colegial e em que todos os países teriam algo a dizer sobre as decisões que afectam todos. Nesse dia, Herman Van Rompuy tinha acabado de anunciar um acordo entre todos os ministros da União para o reforço da gestão do euro quando, nesse mesmo dia, à margem da famosa cimeira de Deauville, Merkel e Sarkozy vieram anunciar ao mundo um acordo que não só expunha Van Rompuy ao ridículo como ainda contrariava o que antes tinha sido decidido pelos ministros. Estava aberto o precedente.
Esta semana regressaram e não escondem ao que vêm. A chanceler para dizer que o seu partido (CDU) e os sociais-democratas (parceiros de coligação) já estariam a negociar um consenso para a composição do próximo executivo europeu. É uma total desvalorização do acto eleitoral, já que os europeus ainda nem sequer votaram, e o Tratado de Lisboa diz que a escolha do presidente da Comissão terá de levar em conta os resultados das eleições.
Nicolas Sarkozy, que já percebeu que o UMP irá perder para a Frente Nacional, também está desesperado em não deixar fugir o eleitorado de direita. Não só veio propor a "suspensão imediata" dos acordos de Schengen sobre a livre circulação de pessoas como ainda veio ressuscitar a ideia da institucionalização de um directório franco-alemão para a governar a União.
Merkel e Sarkozy estão a jogar todos os trunfos para não perder o eleitorado mais conservador e mais céptico em relação ao projecto europeu. E o resto da Europa assiste com estupefacção. E assim se vai construindo, ou melhor, desconstruindo, o projecto europeu.