O mundo católico entre a surpresa, a tristeza e a esperança
“Nunca imaginei a renúncia de um Papa. É como um divórcio. Não é possível. Deve-se continuar até ao último suspiro”.
“Nunca imaginei a renúncia de um Papa. É como um divórcio. Não é possível. Deve-se continuar até ao último suspiro”, disse à AFP Hugh Stafford Northcote, um reformado inglês que no sábado esteve com Bento XVI em Roma.
“Numa fracção de segundo, o seu olhar cruzou-se com o meu e pensei: ‘oh, ele não ficará muito tempo nesta terra’”, acrescenta a sua mulher, Hilary.
Em Madrid, em frente à catedral de Almudena, a mesma surpresa: “Não sabia que o Papa se podia demitir. Eu pensava que ele tinha de ficar até morrer”, reconheceu Gabriel Gar, 46 anos, gestor de empresas.
“A Igreja precisa de um progressista como João XXIII, que saiba como a vida é hoje e como a sociedade avança”, diz Julio Ferreiro, reformado galego.
“Percebo que ele não fique até morrer. Eu própria tenho 82 anos e sei que não aguentamos o ritmo terrível imposto a um Papa com esta idade”, diz, por sua vez, Olga Camus, em frente à igreja de Saint-Eustache, em Paris. “Sonho ver um Papa negro, de pés descalços e roupas de trapos”, declara Bertille Vincent, um outro reformado.
Na Polónia, terra natal de João Paulo II, Henryk Damaszewski congratula-se por Bento XVI abrir caminho para um novo Papa.
Na Terra Santa, corriam os rumores mais loucos. Comerciantes palestinianos em Jerusalém diziam que o Papa já estava morto e que o Vaticano estava a encobrir a morte.
“Choque, choque”, foram as únicas palavras de dois religiosos polacos junto à igreja do Santo Sepulcro.
Outras pessoas entretinham-se a imaginar diferentes razões para a decisão de Bento XVI.
Na igreja da Natividade, em Belém, um jovem palestiniano de 21 anos usava a prudência: “Não conhecemos a verdadeira razão, mas o Vaticano conhece.”
Em África, em Cotonou (Benin), Guy Kpakpo diz que o Papa renuncia num momento em que a Igreja atravessa uma “crise profunda”, mas para Rosalie Quenum Assogba a resignação é “uma mensagem que vai além da Igreja Católica”.
A meio da tarde, em frente à catedral de Abidjan (Costa do Marfim), Victor Ségueï, lamentava a saída de Bento XVI: “Ele é o chefe da Igreja, deve conduzir o seu povo até ao fim e não demitir-se.”
Do outro lado do planeta, em Manila (Filipinas), o Elvira Go, dona de um restaurante, não tem dúvidas: “Ele não sairia se tivesse forças para continuar” a sua tarefa.
Para Ivy Taalip, de uma comunidade tribal cristã no Sul do país, “é a vontade de Deus”. “A Igreja sempre nos ensinou que os caminhos do Senhor são insondáveis. Mas o que acontecerá agora com a Igreja?”