Nélida procurou o assassino do filho durante sete anos e conseguiu condená-lo
Nélida Sérpico percorreu as ruas perigosas de um bairro em Buenos Aires e levou o homicida do filho à justiça.
A 22 de Dezembro de 2005, a vida de Nélida, 57 anos, transformou-se num pesadelo. O filho Octavio, de 16 anos, foi morto por um elemento do gangue Los Quebrados quando se encontrava na rua com um amigo, que também foi baleado. O autor do disparo, que na altura do crime estava acompanhado por mais oito elementos do grupo, acabou por ser identificado como Facundo Caimo, 24 anos, pelo amigo do filho de Nélida. Foi o jovem que deu todas as indicações à argentina dos locais que Caimo frequentava no Bairro Rivadavia.
Octavio ainda esteve hospitalizado mas não sobreviveu aos ferimentos. O amigo acabou por perder um rim e, enquanto esteve internado, elementos de Los Quebrados tentaram matá-lo, já que era a única testemunha do homicídio, conta o jornal La Nación.
A polícia investigou inicialmente o caso da morte de Octavio mas nunca fez qualquer detenção, apesar de o autor do homicídio ter sido identificado. Nélida acreditava que as autoridades não estavam a fazer o seu trabalho e decidiu iniciar a sua própria investigação.
Desde o dia em que o assassino do filho passou a ter um nome, Nélida passou a andar com um recorte com a fotografia de Caimo. Nunca mais o largou e foi com ele nas mãos que percorreu nos setes anos seguintes as ruas da perigosa Vila 1-11-14 e do Bairro Rivadavia, onde vivia com os seus outros dois filhos e o marido. Pintou o cabelo, disfarçou-se o melhor que pôde e trocava de roupa várias vezes para não ser reconhecida por nenhum dos elementos dos Los Quebrados. A sua vida ficou reduzida à dor da perda do filho e à busca de Caimo.
Todos os dias depois do trabalho, Nélida iniciava a sua missão até à meia-noite, antes que o seu marido chegasse a casa. “Andava sozinha. Na palma da mão tinha a identificação do suspeito, na outra o número da polícia”, lembra a mulher ao La Nación.
No seu testemunho, Nélida nunca diz o nome de Caimo. Refere-se sempre a ele como o “suspeito”. “Sabia que o suspeito gostava de andar em motos de alta cilindrada e que usava ténis da mesma cor das motos com que andava. Caminhei as ruas sem companhia. Só confiava ao meu filho Octavio e pedia-lhe que me tornasse invisível para que ninguém me descobrisse.”
A vida recomeçou a 5 de Abril
A perseverança de Nélida acabou por compensar. O trabalho solitário da argentina foi demorado. Sete anos para encontrar a cara que a assombrava todos os dias. Na tarde do dia 5 de Abril deste ano, perto do local onde Octavio tinha sido baleado, Nélida pareceu-lhe reconhecer Caimo. E não se enganou. Olhou para a palma da mão onde tinha o contacto da polícia e fez a tão ansiada chamada. Do outro lado da linha pediram-lhe para aguardar alguns minutos. Foi-lhe dito que deveria contactar a Gendarmería Nacional Argentina, a principal força de segurança do país. A Gendarmería chegou e Caimo foi detido.
Na sala do tribunal onde o jovem foi julgado, Nélida e a família ouviram a sentença na semana passada: 15 anos de prisão. Caimo foi condenado por homicídio simples e tentativa de homicídio do amigo de Octavio, com uma pena agravada por ter estado fugido durante sete anos e por “desprezo à vida de outros”, indica o site argentino infobae.com. A defesa do arguido tinha pedido a sua absolvição, sustentado as suas alegações no benefício da dúvida.
Abraçada à representante do Ministério Público, Nélida chorou mais uma vez, mas agora o sentimento de que se “tinha feito justiça”. “Obrigado. Acabo de dar à luz mais uma vez. Agora o meu filho vai poder descansar em paz.”