Nas presidenciais na Polónia há um olho na Europa e outro na Rússia

A defesa externa é a principal preocupação do eleitorado polaco e ambos os candidatos têm uma postura severa contra a Rússia. A maior decisão será sobre o papel da Polónia na Europa.

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O nacionalista Andrzej Duda diz que a Polónia não será um país de "classe B" Kacper Pempel/Reuters

As eleições de domingo podem ter consequências importantes na política externa da Polónia, mas estão principalmente a ser vistas como uma antecipação das legislativas, marcadas para Outubro. Na primeira volta, Komorowski conseguiu apenas 33,8%, contra 34,8% de Duda e, surpreendentemente, 20,8% de Pawel Kukiz, um candidato independente que protestava contra o sistema eleitoral polaco. Uma crise inesperada para o Plataforma Cívica, o partido que governa a Polónia desde 2007 e que, desde então, foi capaz de ignorar a crise económica europeia e crescer 33% em oito anos de executivo.

Na Polónia, o poder do Presidente limita-se essencialmente à supervisão do Governo, à possibilidade de veto de leis aprovadas no Parlamento e, acima de tudo, à liderança das Forças Armadas. Este tema é, de todos, o que mais diz aos polacos nestas eleições. De acordo com uma sondagem publicada pelo jornal Rzeczpospolita, 96% dos polacos consideram que o tema da defesa externa é o que mais importa.

E não há dúvidas entre os dois candidatos de que a Rússia é o inimigo latente. Tanto Komorowski como Duda querem uma base permanente da NATO na Polónia e ambos prometem que o país continuará a ser dos mais fortes apoiantes do novo Governo ucraniano contra os movimentos separatistas de Luganks e Donetsk no Leste.

Komorowski assumiu essa linha enquanto Presidente. Em Abril anunciou que seriam construídas seis torres de vigilância na fronteira com Kaliningrado e, no mesmo mês, formalizou a compra de um conjunto de mísseis de longa distância aos Estados Unidos por 5000 milhões de dólares, o negócio mais caro da história militar polaca. Tudo para fazer frente à alegada ameaça russa.

Mas é o discurso de Duda o que mais tenta atingir o fantasma do domínio soviético no país. Referindo-se ao período de prosperidade que a Polónia hoje atravessa, e que se pensava ser o maior trunfo de Komorowski e do Plataforma Cívica, Duda deu uma volta ao argumento e alegou que a maior parte do dinheiro está a ir para os principais responsáveis do período soviético e que a classe trabalhadora na Polónia tem ficado de fora. Um argumento com peso: sob o Plataforma Cívica, a economia polaca cresceu 33%, mas os salários subiram apenas 18%.  

Na política externa, Duda quer mostrar-se como o candidato de pulso forte. Mais do que Komorowski, que é mais velho – 62 anos contra 43 – e que foi acusado de falta de vigor ao longo da primeira volta. Num vídeo de campanha lançado por Duda, Komorowski aparece na cama, a ressonar, e é acordado por um assistente que lhe entrega um telefonema com uma chamada de Moscovo. O vídeo termina com a frase: “Quer continuar preocupado com quem vai atender o telefone?”

Mas se, face à ameaça russa, o debate anda em torno de quem será mais severo, o tema europeu é substancialmente diferente. Nesse campo, o europeísmo de Komorowski e o nacionalismo de Duda contrastam.

O actual Presidente e o seu Plataforma Cívica são a imagem da maior convergência europeia na Polónia. A principal imagem do partido é, aliás, Donald Tusk, o político mais bem-sucedido na história recente da Polónia. Tusk abandonou o Governo no final de 2014 para se tornar presidente do Conselho Europeu, um sinal do papel cada vez mais importante da Polónia na União Europeia, mas, ao fazê-lo, deixou o Plataforma Cívica fragilizado.

“Uma cooperação próxima com a Alemanha permite-nos conseguir melhores decisões na União Europeia”, disse o actual Presidente no primeiro debate com Duda, em antecipação da segunda volta. O Governo polaco, primeiro sob a liderança de Tusk e agora liderado por Ewa Kopacz, trocou os Estados Unidos pela Alemanha como principal parceiro internacional. "O truque é ter amigos poderosos na Europa e não inimigos poderosos”, concluiu o Presidente da Polónia.

Komorowski quis atingir Duda e o Lei e Justiça no coração do seu eurocepticismo. O candidato conservador defende um papel mais forte da Polónia no contexto europeu e recusa-se a fazer parte da corrente comum da união. Para Duda, a Polónia não será um país de “classe B”.

“Se a ideia para nós é a de permitir docilmente que os outros persigam os seus interesses e ponham os nossos em segundo lugar, ou aquilo que Donald Tusk se referia como nadar na corrente, então estaremos a concordar com uma política que não é realmente soberana”, disse Duda durante a campanha.

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