Muçulmanos são “as primeiras vítimas do fanatismo”, diz Hollande
A França deve “recusar as amálgamas” entre religião e terrorismo. Mais um momento altamente simbólico para o Presidente francês, desta vez no Instituto do Mundo Árabe.
Foi mais um acto carregado de simbolismo da parte de Hollande, na sequência dos três dias de terror vividos em Paris na semana passada. Desta vez, o palco foi o Instituto do Mundo Árabe, cujo edifício nas margens do rio Sena apresenta há alguns dias, em francês e em árabe, a mensagem que correu mundo: “Je suis Charlie”.
“O islamismo radical é alimentado por todas as contradições, por todas as influências, por todas as misérias, por todas as desigualdades, por todos os conflitos não resolvidos há muito tempo”, disse Hollande.
Para demonstrar a união contra o terrorismo, Hollande aludiu à fotografia de uma jornalista síria que, sobre as ruínas da cidade de Aleppo – das mais fustigadas pelos quase quatro anos de guerra civil – mostrava um cartaz onde se lia “Je suis Charlie”. “Perante o terror, todos estamos unidos. Que belo símbolo para marcar esta solidariedade na tristeza e esta resistência que ela exprime para nos aumentar a esperança”, sublinhou.
Símbolo das palavras de Hollande é também Ahmed Merabet, o polícia muçulmano que foi morto pelos irmãos Kouachi, no ataque ao Charlie Hebdo. “Ele sabia melhor que ninguém que o islamismo radical nada tem a ver com o Islão e que o fanatismo mata os muçulmanos”, afirmou.
Por estes dias, a grande ameaça da França é a divisão e a luta entre comunidades, avisou Hollande, dirigindo-se tanto a muçulmanos como a judeus. “Devemos recusar as amálgamas e as confusões. Os franceses de confissão muçulmana têm os mesmos direitos e os mesmos deveres que todos os cidadãos”, sublinhou. “Quatro judeus estão mortos. E não foram mortos porque faziam as suas compras, mas porque eram judeus. Se o Presidente não tivesse ido à sinagoga, ninguém teria compreendido.”
Hollande esteve na Grande Sinagoga de Paris ao lado do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, no domingo, após a marcha que reuniu mais de um milhão de pessoas em Paris, em protesto contra o terrorismo.
O discurso de Hollande no IMA – que serviu de abertura a um fórum internacional – não estava contemplado na agenda semanal do Eliseu. No entanto, o momento sensível vivido em França tornou prioritária a presença do Presidente no evento, escreve o Le Figaro. “Este evento é oportuno, depois de a violência ter sido expressa selvaticamente”, observou o presidente do IMA e antigo ministro socialista, Jack Lang.
Desde o primeiro atentado, a 7 de Janeiro, que Hollande se tem desdobrado em discursos e actos de grande simbolismo, com o objectivo de sublinhar a necessidade de manter o país unido na defesa dos valores republicanos. A verdade é que os esforços têm valido, pelo menos, o reconhecimento dos franceses.
Uma sondagem publicada pelo jornal Le Parisien na quarta-feira mostrava que 79% dos inquiridos concorda que Hollande e o seu primeiro-ministro, Manuel Valls, estiveram “à altura” dos acontecimentos.Em termos gerais, a taxa de aprovação do Presidente francês subiu oito pontos percentuais (de 21% para 29%) em relação a Dezembro.