Morte de Eduardo Campos suspende campanha para as presidenciais no Brasil

O candidato socialista morreu na queda do jacto privado onde seguia. A sua candidata à vice-presidência é o nome mais apontado para o substituir

Foto
EVARISTO SA/AFP

Considerado um dos políticos mais promissores da sua geração, Eduardo Campos, de 49 anos, foi uma das sete vítimas da queda de um jacto privado sobre uma área residencial de Santos, no estado de São Paulo, ao final da manhã de quarta-feira. As causas do acidente, que poderá estar relacionado com o mau tempo, ainda estão a ser apuradas — a Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, sua adversária política na campanha em curso, pediu ao governador de São Paulo para “agilizar” todos os meios necessários para uma investigação célere.

O candidato viajava do Rio de Janeiro, onde segundo os comentadores políticos tinha “brilhado” numa entrevista no Jornal Nacional da rede Globo, para a cidade de Santos, no litoral paulistano, onde tinha presença marcada num evento ligado à exportação. A bordo do Cessna 560 XL, com lugar para dez passageiros, seguiam dois assessores da campanha, Pedro Valadares e Carlos Percol, um fotógrafo, um operador de câmara e dois pilotos. Nenhum dos passageiros sobreviveu ao acidente, que fez pelo menos sete feridos nos edifícios atingidos pelos destroços do avião.

A ex-senadora e antiga candidata presidencial Marina Silva, que se juntou oficialmente à “chapa” liderada por Campos em Abril, também deveria ter seguido no avião que se despenhou, mas acabou por viajar para São Paulo num voo comercial. A candidata ficou em estado de choque com a notícia e recusou fazer qualquer declaração — vários dirigentes políticos brasileiros, e até o irmão de Eduardo Campos, António, consideram que Marina deverá assumir a candidatura e prosseguir o combate iniciado pelo popular político pernambucano.

Segundo o Supremo Tribunal Eleitoral do Brasil, a substituição de nomes nas candidaturas já homologadas está previsto no artigo 61, que prevê a eventualidade de falecimento. A autoridade eleitoral informou que a campanha tem um prazo de dez dias para definir o nome de um novo concorrente, que pode pertencer a qualquer um dos seis partidos inscritos na coligação “Unidos pelo Brasil” — PSB, PPS, PHS, PRP, PPL e PSL.

O PSB, onde Marina Silva se filiou para entrar na candidatura, tem prioridade na indicação do novo candidato. Como escrevia a Folha de São Paulo, Marina “pode assumir a campanha presidencial caso esta seja a vontade da coligação”. A maioria da aliança tem de aprovar a escolha, mas a substituição não exige a realização de uma nova convenção partidária, e pode ser feita “em reunião com maioria absoluta das executivas dos partidos que compõem a coligação”, acrescenta o diário.

Dirigentes da cúpula do PSB disseram a vários jornais que este ainda não é o momento de pensar na substituição. “Estamos tão transtornados com a notícia que ainda ninguém parou para pensar sobre o que vai acontecer. Ainda é cedo para isso”, declarou o deputado federal Júlio Delgado, do PSB de Minas Gerais.

A Presidente Dilma Rousseff decretou um luto nacional de três dias. Candidata à reeleição, e favorita à vitória nas sondagens, Rousseff cancelou toda a sua agenda política e fez saber que iria viajar até ao Recife, acompanhada por Lula da Silva, para participar nas homenagens fúnebres.

O candidato presidencial do PSDB, Aécio Neves, que era amigo de Eduardo Campos, deixou a região do Nordeste, onde se encontrava em campanha e rumou a São Paulo. Neves perdeu a voz ao ser informado do acidente que vitimou o concorrente do PSB: “Meu Deus, nem me consigo levantar da cadeira. Preciso de respirar fundo”, reagiu, quando os jornalistas lhe deram conta da notícia.

Os partidos políticos brasileiros suspenderam todas as suas iniciativas eleitorais. Numa nota oficial, o Partido dos Trabalhadores manifestou o seu “imenso pesar” pelo falecimento do ex-governador do Pernambuco e anunciou o cancelamento “de todas as actividades públicas referentes à campanha eleitoral de 2014 nas esferas nacional, estadual e municipal, em manifestação de luto com duração de três dias”.

Eduardo Campos, economista, deputado estadual e federal, ex-ministro da Ciência e Tecnologia no Governo de Lula da Silva e presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB), foi eleito governador do estado de Pernambuco em 2006 — um cargo que também foi exercido pelo seu avô, Miguel Arraes, figura histórica da resistência à ditadura militar (1964-1985) e que também morreu a 13 de Agosto (de 2005).

Reagindo à morte do seu amigo, Lula lamentou a perda “de um homem público de rara e extraordinária qualidade”, e que “ao longo de toda a sua vida lutou para tornar o Brasil um país mais justo e digno”.

No ano passado, rompeu a aliança do PSB com a Presidente Dilma Rousseff e começou a planear uma candidatura em nome próprio à presidência. Quando deixou Pernambuco para iniciar a campanha, era o governador mais popular do Brasil.

Sugerir correcção
Comentar