Morreu Blas Piñar, “o último franquista”

Nos últimos anos, Piñar continuava a tentar unificar os grupúsculos da ultradireita espanhola.

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Blas Piñar a discursar no 32.º aniversário da morte de Franco ANGEL NAVARRETE/AFP

Blas Piñar López, de 95 anos, morreu nesta terça-feira na sua casa em Madrid. Durante o franquismo, nunca fez parte da alta hierarquia do regime. É durante a Transição (1977-78) que emerge como líder da ultradireita, defensor da causa e dos valores franquistas, que assumirá até ao fim da vida.

Nasceu em Toledo, filho de um militar. Tinha 18 anos quando eclodiu a insurreição militar franquista que leva à guerra civil. Esteve com o pai no Alcácer de Toledo, cercado pelas forças republicanas durante 70 dias.

Licenciado e doutorado em Direito, faz carreira como notário. Em 1957, é nomeado director do Instituto de Cultura Hispânica, sendo demitido em 1962, depois de publicar no ABC um virulento artigo antiamericano. Mais tarde, Franco nomeia-o procurador nas Cortes Espanholas e conselheiro do Movimento (partido único).

A sua influência política decorre sobretudo da editorial Fuerza Nueva, que se torna porta-voz de uma corrente ultra que denuncia o “desfiguramento” do regime e o seu esvaziamento ideológico. Morto Franco em 1975, opõe-se nas Cortes ao projecto da lei das associações políticas e à lei da reforma política de Junho de 1976. Considerava-as a porta para a liquidação do regime.

Apesar de inimigo dos partidos, transforma a Fuerza Nueva em partido político. Aprovada a Constituição democrática, é eleito deputado por Madrid nas eleições gerais de 1979, lugar que perderá em 1982. Foi um acérrimo inimigo das autonomias: “A Espanha é uma nação que não se compõe de nacionalidades.” Mobilizava à sua volta os nostálgicos da ditadura. No entanto, o franquismo pertencia ao passado e Piñar rapidamente se torna numa figura algo folclórica, promotor de homenagens a Franco.

Em 1986 e 1989, com o apoio da Frente Nacional, de Jean-Marie Le Pen, e do Movimento Social Italiano, do neofascista Giorgio Almirante, candidata-se às eleições europeias, visando formar uma “eurodireita”. Foi um fiasco.

Desaparecida a Fuerza Nueva, Piñar continuará a tentar unificar os grupúsculos da ultradireita espanhola. E, sobretudo, continuará, até à morte, a escrever artigos de justificação do golpe militar de 1936 e de louvor de Franco.

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