Frelimo ganha maioria dos municípios, polícia mata jovem da oposição em Quelimane
MDM bem posicionado na Beira e em Quelimane. Dados provisórios dão como garantidos para a Frelimo pelo menos 40 dos 53 municípios. Partido oposicionista marca pontos no plano autárquico.
Os dados divulgados oficialmente quase 24 horas após o fecho das urnas atribuem 40 presidências de câmara à Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), que, em diversos casos, mesmo vencendo, vê a sua influência eleitoral diminuir. Mostram também resultados muito positivos para o MDM (Movimento Democrático de Moçambique), única força política que desafiou o partido governamental em todos os 53 municípios do país. Não havia ainda ontem à tarde informação sobre diversos municípios, nem sobre a abstenção.
Mesmo tendo ganho a maioria das câmaras, a Frelimo, que só não controlava dois dos 43 municípios do país — há dez novos nestas eleições — foi confrontada com bons resultados do MDM, sobretudo em áreas urbanas. Criado em 2009, terceira força parlamentar, o partido liderado por Daviz Simango, presidente da câmara da Beira, terá também beneficiado da ausência da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), antiga guerrilha, que boicotou as eleições, e afirma-se como a segunda força no plano local.
Em Maputo, com pouco mais de metade das mesas de voto contabilizadas, a Frelimo tinha, segundo o STAE (Secretariado Técnico de Administração Eleitoral), uma vantagem de 18%: 58,38% obtidos pelo presidente em exercício, David Simango, contra 39,78% de Venâncio Mondlane, que se apresentou pelo MDM. Os dados referem-se a 54,94% das mesas. Nas autárquicas de há cinco anos a Frelimo obteve na capital 85,8% contra a Renamo. Na Matola, cidade-satélite da capital, com mais de 71% das mesas contabilizadas, o candidato da Frelimo — que nas anteriores autárquicas ultrapassou ali os 87% — tinha, de acordo com os dados oficiais, 55,88% contra 43,33% do MDM.
Na Beira, segunda cidade do país, província de Sofala, com 63,6% das mesas de voto contabilizadas — a percentagem diz respeito a mesas, não percentagem de votos expressos — Daviz Simango tinha ontem à tarde 70,6% dos votos, contra 29,4% do seu opositor da Frelimo, Jaime Neto: 51536 votos contra 21411.
Em Quelimane, com menos votos contados, apenas 15,6%, Manuel de Araújo, do MDM, que também procura a reeleição, tinha mais do dobro da percentagem de votos obtidos pelo candidato da Frelimo, Abel Henriques: 69,9% contra 30,1%. Na capital da província da Zambézia, na quarta-feira, depois de as urnas terem encerrado, agentes da Força de Intervenção Rápida (FIR), um corpo especial de polícia, dispersaram pessoas concentradas e causaram feridos, um dos quais ficou em estado grave.
Pior foi o que aconteceu ontem: um elemento da guarda do governador disparou sobre manifestantes do MDM que comemoravam a vitória, matando um jovem músico apoiante do partido, segundo a televisão STV.
Uma das mais estreitas vitórias da Frelimo foi em Marromeu, Sofala, onde o candidato do partido do governo obteve 51,62% contra 48,8% do representante do MDM. No município da Gorongosa, zona onde se têm registado acções armadas, os dados atribuem 56,5% à Frelimo e 43,4% ao partido da oposição. Partidários do MDM manifestaram-se na rua, contra os resultados, segundo a mesma televisão. Há também casos de progressão eleitoral do partido governamental: em Nacala-Porto, onde há quatro anos conseguiu uma vitória tangencial, teve desta vez um triunfo muito folgado.
Em vários municípios, os dados divulgados pelo STAE indicavam que a eleição está ainda em aberto. São os casos de Milange e Gorué, ambos na província da Zambézia. No primeiro, com 91,3% das mesas processadas, a vantagem do candidato da Frelimo era de apenas um por cento: 50,5%, contra 49,4%. No segundo, com os resultados de 79,59% das mesas processados, era o representante do MDM que levava vantagem: 51,6% contra 48,3.
O acto eleitoral, que em Maputo decorreu sem sobressaltos, teve no país, segundo a Comissão Nacional de Eleições, numa declaração anterior à morte de ontem em Quelimane, “pequenos incidentes”. O jornal Canal Moçambique denunciou, na sua página do Facebook, abusos das forças militares e policiais: “Detenções de membros e fiscais da oposição, assassinatos de cidadãos é o que se regista no terreno”, escreveu.
No final do dia das eleições, foram noticiados dois ataques a automóveis entre o rio Save e Muxúnguè, na província de Sofala, centro, que não causaram vítimas. As acções foram atribuídas na imprensa a homens armados, supostamente da Renamo.
As autárquicas serão repetidas em Nampula, zona porque os boletins de voto não incluíam nem o nome nem a fotografia de uma das concorrentes.