Ministro sírio prevê "época próspera" de turismo numa das regiões mais castigadas pela guerra
Fechando os olhos à guerra e à devastação, regime promete investimentos e iniciativas para reanimar o sector.
Propaganda para consumo interno ou fantasia delirante? Não é fácil compreender os motivos por trás das declarações do ministro do Turismo sírio, citadas pela agência oficial Sana e repescadas pela AFP, quando no sábado visitou o Crac des Chevaliers, o castelo construído pelos cruzados numa colina junto à actual fronteira com o Líbano e que era, até ao início da guerra, a fortaleza medieval mais bem preservada do mundo e uma das principais atracções turísticas do país.
A classificação pela UNESCO como Património da Humanidade de pouco valeu à fortaleza quando, em Março, o Exército sírio lançou uma grande ofensiva para expulsar a rebelião da zona. As marcas dos combates e os objectos deixados à pressa pelos rebeldes e os civis que ali se refugiaram eram bem visíveis quando, na semana passada, jornalistas da AP visitaram a zona: “As paredes com marcas deixadas pela artilharia pesada, os telhados perfurados pelos ataques aéreos e estilhaços espalhados pelos seus artefactos religiosos”.
Na mesma ofensiva, as forças leais a Assad reconquistaram o vizinho Wadi al-Nasara (Vale dos Cristãos), agregado de pequenas aldeias cristãs conhecidas pelas suas igrejas e mosteiros antigos e que foram várias vezes atingidas nos combates.
Ganha a batalha, e apesar das centenas de mortos, Bisher Yazagi proclamou que o turismo vai regressar à zona graças “a várias actividades planeadas para o Verão”. Não revelou que iniciativas são essas, mas garantiu que haverá “muitas facilidades para os projectos de investimento turístico na região”. A acompanhá-lo na viagem, o governador de Homs, Talal al-Barazi, assegurou que, “graças ao sacrifício do Exército sírio, a vida regressa à província e o turismo será ressuscitado”.
No mesmo dia em que aconteceu a visita, a 40 km de distância, centenas de rebeldes começavam os preparativos para deixar a Cidade Velha de Homs, após quase dois anos de cerco e fome. Muitos dos edifícios históricos que atraiam multidões ao bairro ficaram reduzidos a pó, outros sofreram danos irreparáveis. E apesar de quase toda a cidade estar agora em poder do Exército, os combates prosseguem noutras zonas da província.
A situação não é melhor noutras regiões que, até 2011, alimentavam o turismo sírio, um sector que representava 14% do PIB do país, recorda a Reuters. É o caso de Alepo, a maior e uma das cidades mais visitadas da Síria, agora dividida entre o regime e a oposição. Por todo o país, os combates ou o risco de sequestros tornam impraticáveis muitas estradas – quem tem dinheiro opta agora por viajar de avião – e muitos locais históricos não resistiram aos combates e aos saques. E, para lá dos danos a um dos patrimónios mais ricos da região, a guerra continua a ceifar todos os dias dezenas de vidas, em bombardeamentos, ataques e execuções a sangue-frio.
Ainda assim, numa entrevista no final de Abril à Reuters, Yazagi dizia que a Síria tinha condições para atrair investimento e turistas estrangeiros. “A situação na Síria não é como o mundo imagina. Há áreas que são 100% seguras”, disse, dando como exemplo as montanhas na costa do Mediterrâneo, região onde é maioritária a seita alauita, a que pertence o Presidente Bashar al-Assad, e que o regime manteve sempre sob o seu controlo. “Em breve teremos legislação que vai facilitar muito o investimento, atraindo investidores de todo o mundo”.