MH17 foi atingido por "numerosos objectos" que o perfuraram a "alta velocidade"
Relatório afasta possibilidade de erro humano ou técnico. Sem o afirmar, põe de lado qualquer cenário que não seja o de o avião ter sido abatido.
O "Boeing 777-200 operado pela Malaysia Airlines partiu-se em voo, provavelmente em resultado de danos estruturais causados por um grande número de projécteis [que o atingiram] a grande velocidade [e] penetraram no avião a partir do exterior”, segundo o OVV, Conselho Holandês para a Segurança, encarregado do inquérito à queda do MH17.
Os especialistas que conduziram a investigação cujos resultados foram divulgados esta terça-feira concluíram que “não há prova de erro técnico ou humano” da tripulação que pudesse ter provocado a queda do aparelho, na região de Donetsk. A equipa de pilotos era "qualificada e experiente", sublinham.
O "fim abrupto do registo de dados nas caixas negras, a perda de contacto com os controladores aéreos e o desaparecimento simultâneo do aparelho dos radares" é explicado pelo facto de o aparelho ter sido atingido.
O registo de gravações da cabina dos pilotos não revela quaisquer sinais de falha técnica ou ocorrência de situações de emergência. A última comunicação do aparelho, às 13h19m e 56 segundos TMG, em resposta a um contacto do controlo aéreo foi, de acordo com a citação feita pela agência noticiosa AFP, de absoluta normalidade: "Romeo November Delta, Malaisian one seven".
O relatório preliminar não atribui culpas nem responsabilidades, que deverão ser apuradas por uma investigação criminal a cargo da procuradoria holandesa. Os resultados só deverão ser conhecidos no próximo ano.
Como destaca Richard Westcott, especialista em transportes da BBC, o relatório preliminar não diz que o MH17 foi derrubado por um míssil mas, na prática, “afasta qualquer outra possibilidade”. A referência ao facto de ter sido atingido por projécteis "a alta velocidade” confere com a possibilidade de ter sido derrubado por um míssil terra-ar Bulk, que não atinge o alvo mas explode junto a ele e atinge-o com estilhaços.
A questão da autoria do disparo não encontra resposta. O facto de ambos os lados do conflito, militares ucranianos e rebeldes pró-russos, usarem esse tipo de mísseis leva, segundo Westcott, a que seja necessário “determinar de onde no solo foi o míssil lançado” para poder ser clarificado sem margem para dúvidas quem disparou.
O relatório divulgado esta terça-feira indica também, segundo a estação britânica, que três outros aviões comerciais voavam na mesma área, mais ou menos ao mesmo tempo.
O voo MH17, que fazia a ligação de Amesterdão para Kuala Lumpur e caiu a 17 de Julho, terá sido - segundo alegações do Governo da Ucrânia e de líderes ocidentais, incluindo o Presidente norte-americano, Barack Obama - atingido por pró-russos. A Rússia nega ter fornecido armas aos rebeldes e chegou a falar na possibilidade de ter sido alvejado por um míssil disparado por um avião militar ucraniano.
Já depois de divulgadas as conclusões do Conselho Holandês para a Segurança, um dos principais líderes pró-russos do Leste da Ucrânia, Alexandre Zakhartchenko, “primeiro-ministro” da autoproclamada República Popular de Donetsk, disse à agência russa Interfax, que os rebeldes não têm “técnico capaz de abater um Boeing”.
Para chegarem às primeiras conclusões oficiais sobre o que aconteceu, os investigadores - holandeses mas também norte-americanos, russos, ucranianos, malaios, australianos, alemães e britânicos - cruzaram informação das caixas negras, do controlo de tráfego aéreo, bem como imagens de satélite e fotografias. Por falta de condições se segurança não puderam deslocar-se ao local da queda.
Das 298 pessoas que seguiam a bordo, 193 eram holandesas.