Maduro tomou posse, auditoria cidadã a 46% dos votos arranca na próxima semana
Conselho Nacional Eleitoral aceitou verificar os boletins de cerca de 12 mil urnas. Oposição promete aceitar resultado da auditoria
Indiferente ao processo de impugnação dos resultados entregue pela oposição, o candidato “oficialista”, designado como o herdeiro político e sucessor natural de Hugo Chávez ainda antes da sua morte, jurou governar o país até 2019 “pela memória eterna do comandante supremo” (o novo título oficial do falecido Presidente), “sem pactos com a burguesia” e com “pulso firme contra os fascistas” – que é como designa a oposição.
Os líderes da América Latina – que na véspera assinaram uma declaração unânime de apoio a Maduro –, e várias delegações internacionais participaram na cerimónia na Assembleia Nacional. O Presidente do Irão, Mahmoud Ahmadinejad, que viajou até Caracas para o funeral de Hugo Chávez, voltou marcar presença num evento carregado de simbolismo: nesta sexta-feira, além da posse do “primeiro Presidente chavista da história da Venezuela”, comemorou-se o aniversário da independência do país.
Como era esperado, os deputados da oposição estiveram ausentes: a ala Constitucional do Supremo Tribunal de Justiça rejeitou a sua petição para que a posse fosse adiada até terem sido definitivamente apurados os votos e ratificados os resultados. Para Maduro, a concessão das autoridades eleitorais às exigências da oposição não fragiliza a sua legitimidade política ou autoridade de Estado. “Não vou ser um Presidente débil, isso garanto. Vou ser um Presidente de mão dura contra os golpes, contra a ineficiência, contra a corrupção, contra os golpistas”, insistiu Maduro, numa cerimónia em que foi interrompido por um homem que entrou na sala e agarrou o microfone.
A decisão do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) foi anunciada após uma reunião de nove horas para avaliar o pedido de impugnação entregue pelo candidato da Mesa da Unidade Democrática, Henrique Capriles. A presidente do CNE, Tibisay Lucena, explicou que uma auditoria seria lançada após a “proclamação do candidato eleito”. Como o procedimento não é, tecnicamente, nem uma recontagem nem um novo escrutínio, não poderia suspender a posse, explicou.
O processo em curso, que demorará um mês, assenta na verificação dos boletins em “amostras aleatórias” de 12 mil urnas que não foram auditadas no fim da votação: os técnicos do CNE terão dez dias para rever cada uma das amostras.
Na Venezuela, os eleitores assinalam a sua escolha eleitoral em máquinas de votação electrónica, que imprimem um recibo que depois é depositado em urna. A lei eleitoral estabelece que, no fim da votação, 54% das urnas (ao acaso) sejam automaticamente auditadas, isto é, abertas para que os recibos sejam contados e o seu registo comparado com a informação armazenada na máquina de voto. A “auditoria cidadã” autorizada pelo CNE vai consistir na verificação dos recibos dos restantes 46% das urnas, com base em três elementos: cédulas, registos e cadernos eleitorais.
Henrique Capriles, que até agora recusou reconhecer a vitória de Nicolás Maduro, já se comprometeu a aceitar o relatório da auditoria e os resultados – apesar de o CNE não ter satisfeito a sua exigência de recontagem “de todos os votos, um por um”. “Acreditamos que nessas 12 mil caixas está a verdade desta eleição”, afirmou.
Na sua declaração ao país, Tibisay Lucena esclareceu que as autoridades eleitorais decidiram atender ao pedido da oposição para “preservar um clima de harmonia” e “isolar os sectores violentos que buscam lesionar a democracia venezuelana”, numa referência à contestação e aos confrontos que se seguiram ao anúncio da vitória de Maduro.
Lucena manifestou a sua “suprema confiança” de que o processo servirá apenas para confirmar os números que foram originalmente publicados, e que davam a Nicolás Maduro uma vantagem de 272 mil votos, ou 1,8%, sobre o seu adversário. “Os resultados são absolutamente transparentes e reflectem de forma exacta a expressão dos venezuelanos”, sublinhou a presidente do CNE.