Maduro manda Exército ocupar cadeia de electrodomésticos

Presidente venezuelano disse à população que os produtos vão passar a ser vendidos a "preços justos".

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Consumidores acorreram às lojas Daka para comprar televisores a preços baixos REUTERS/Carlos Garcia Rawlins

“A roubalheira do povo acabou. Vai ser tudo vendido a preços justos, todo o stock existente até já não sobrar nada”, anunciou Maduro na noite de sexta-feira. Durante a noite, centenas de pessoas começaram a formar filas à porta das lojas Daka: esta manhã, perante o olhar dos soldados, foram vendidos milhares de televisores ou unidades de ar condicionado com um desconto significativo face ao preço de mercado. Vários gerentes daquela cadeia, com cerca de 500 funcionários, foram detidos pela polícia.

O Presidente justificou a medida acusando os empresários do país – e os seus adversários políticos da direita – de estarem deliberadamente a distorcer os preços e a provocar uma guerra económica para desestabilizar o país e prejudicar o seu Governo.

Além disso, de acordo com o jornal El Nacional, Maduro está também a estudar a possibilidade de reembolsar as pessoas que até Novembro compraram electrodomésticos a preços especulativos. “É preciso fazer uma investigação, um registo das variações que existiram mês a mês. Precisamos de organização”, explicou o governante, acrescentando que os afectados vão ter depois um site e uma linha telefónica através da qual poderão fazer as denúncias.

Com a taxa de popularidade em queda, e sob pressão da oposição, que transformou as próximas eleições autárquicas de 8 de Dezembro num referendo às políticas do seu Governo, Nicolas Maduro prometeu aos venezuelanos que até ao Natal vai apertar a vigilância sobre os preços praticados pelas cadeias do retalho: qualquer prova de “especulação” e “usura” poderá resultar na ocupação pelo Exército ou no encerramento do estabelecimento.

“Este espalhafato do Governo nas lojas Daka é um sério aviso para todos nós”, disse à Reuters um empresário venezuelano que pediu para não ser identificado com receio de repercussões. Segundo explicou, os importadores estão dependentes do mercado negro (onde o câmbio do dólar é dez vezes superior à taxa estatal de 6,3 bolivares) para financiar a sua actividade, sendo depois obrigados a reflectir os custos nos preços praticados. “Será que agora vamos ser obrigados a vender os produtos com prejuízo? Como é que vamos alimentar as nossas famílias?”, perguntava.

A Venezuela está mergulhada numa profunda crise económica: com a taxa de inflação acima dos 50%, têm sido frequentes os episódios de escassez e mesmo falta de bens alimentares (leite, farinha) e outros produtos de primeira necessidade como por exemplo papel higiénico.
 

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