Maduro avisa que responderá "com força e contundência a qualquer tentativa de intervencionismo na Venezuela”

Presidente reage contra a convocação de uma reunião do Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos para analisar a crise no país.

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Milhares desfilaram em memória de Huga Chávez ADALBERTO ROQUE/AFP

“Um ano depois da morte do nosso comandante em chefe, a revolução bolivariana continua de pé, vitoriosa na batalha pelo socialismo”, declarou Maduro, que desta vez dirigiu as suas contra a Organização de Estados Americanos (OEA), cujo Conselho Permanente agendou para hoje uma discussão da crise venezuelana.

“Há por aí um Governo de direita que pretende levar ao Conselho Permanente da OEA um plano de intervenção de forças estrangeiras no país”, informou o Presidente, referindo-se ao Panamá, que solicitou a discussão do tema, após quase um mês de protestos populares que já fizeram 18 mortes. “Mas que não se equivoque a direita com o nosso povo e a nossa revolução. Peço o apoio do povo para responder com força e contundência contra qualquer acção de ingerência ou ataque à soberania nacional”, declarou.

O embaixador do Panamá na OEA, Arturo Vallarino, disse em entrevista à estação nacional do seu país que a reunião foi pedida para “analisar a situação e sobretudo as denúncias em matéria de violação dos direitos humanos”, e rejeitou a ideia de se tratar de uma ingerência em assuntos internos “É uma chamada de atenção para a necessidade de adoptar medidas que ajudem a pôr cobro à violência na Venezuela”, considerou.

 “Já chega a história nefasta de 60 anos de golpes de Estado da OEA”, prosseguiu o herdeiro escolhido por Hugo Chávez. “Lá em Washington é que ela está bem. OEA fora daqui, agora e para sempre!”, bradou o Presidente, que considerou que o caminho da Venezuela está com a União das Nações Sul-Americanas (Unasur), a organização alternativa constituída em 2008. “O nosso Norte é o Sul”, reforçou.

O desfile cívico-militar em memória do líder da revolução bolivariana da Venezuela, que serviu para mostrar à população uma série de novos equipamentos de ponta do Exército nacional, foi ao mesmo tempo uma manifestação da força e capacidade de mobilização do Governo, apesar da contestação.

Alguns líderes de oposição pediram aos manifestantes que têm saído diariamente à rua para cumprirem um dia sem protestos por ocasião das cerimónias de homenagem a Hugo Chávez, que morreu a 5 de Março de 2013, com 58 anos, depois de vários tratamentos contra o cancro. No entanto, a cidade de Caracas voltou a amanhecer com ruas barricadas e em San Cristóbal, a cidade onde começaram os protestos, a deputada de oposição Maria Corina Machado liderou uma marcha anti-Governo.

No seu discurso, o Presidente anunciou a detenção de “vários chefes de grupos violentos e fascistas”, que teriam sido encontrados pela Guarda Nacional na posse de “armas de guerra, cocktails molotov, cartuchos e pólvora” e se preparariam para fechar “estradas, túneis e pontes” em Caracas e pelo menos outras quatro cidades do país. “Estão bem presos e têm que ser castigados severamente. A lei será aplicada contra estes sabotadores”, disse Maduro, que elogiou a actuação da Guarda Nacional e fez um novo apelo às Unidades de Batalha Hugo Chávez, aos conselhos comunais, “trabalhadores, camponeses e todas as organizações sociais” para que “façam valer a voz de Hugo Chávez nas suas comunidades”.

A marcha militar de Caracas marcou o final de uma semana de “inactividade laboral” decretado pelo Presidente Nicolás Maduro para que as crianças pudessem aproveitar os festejos do Carnaval, e que entroncou na jornada de homenagem a Hugo Chávez, que se prolongará por dez dias. As cerimónias contam com a presença do Presidente de Cuba, Raúl Castro, e também do Presidente da Bolívia, Evo Morales. Um dos pontos altos consistia na ante-estreia mundial do documentário “O Meu Amigo Hugo”, do realizador norte-americano Oliver Stone, e que seria transmitido pelo canal Telesur.

No bairro 23 de Enero da capital venezuelana, uma paróquia de 100 mil habitantes que alberga o museu militar que agora serve de mausoléu de Hugo Chávez, o Presidente Nicolás Maduro não goza da mesma popularidade que o seu antecessor, mas beneficia do mesmo apoio. “Maduro tem um problema de carácter e não se vê tão forte como Chávez. Mas apoiamo-lo e acompanhamos a sua gestão”, disse à BBC Mundo José González, que é membro de um dos conselhos comunitários do bairro. “Enquanto ele fizer perdurar a herança [de Chávez], o povo estará feliz e satisfeito. Se ele quiser seguir outro caminho, não irá muito longe”, avisava Angela Sandoval, em declarações à AFP.

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