Líder ucraniano admite aderir a “algumas cláusulas” da União Aduaneira russa
Ianukovich defende acordos com Moscovo e critica ingerências externas e tentativas de mudar o poder pela "revolução".
Em Moscovo, na sua conferência de imprensa anual, Vladimir Putin defendeu os apoios dados à Ucrânia, sublinhando que manter laços próximos com este país é vital para os interesses russos. “Só queremos defender as nossas fronteiras”, disse Putin aos jornalistas.
Ianukovich foi ao Kremlin um mês depois de ter anunciado o recuo na assinatura de um acordo de associação e livre comércio com a União Europeia – uma parceria que valeria a Kiev o acesso ao mercado comum, para além de centenas de milhares de euros em apoios directos, uma injecção bem-vinda numa economia destroçada, e um caminho facilitado para um empréstimo do Fundo Monetário Internacional.
Segundo Putin, a adesão à União Aduaneira não tinha sido discutida no encontro em Moscovo, mas Ianukovich saiu de lá com 11 mil milhões de euros que serão investidos em títulos da dívida ucraniana e com a diminuição do preço do gás russo, que vai passar a custar à Ucrânia menos um terço do que custa actualmente. “Isto não está ligado a nenhuma condição”, disse então Putin. E ainda: “Quero descansar toda a gente, não discutimos a adesão da Ucrânia à União Aduaneira”.
Afinal, explicou agora Ianukovich, “o Governo ucraniano recebeu os documentos e está a examiná-los, depois tirará conclusões sobre as cláusulas” a que o país poderá aderir e “em que condições”, disse numa entrevista a uma televisão ucraniana, citada pela AFP.
Desde o surpreendente anúncio da marcha atrás a Bruxelas por parte de Ianukovich, milhares de ucranianos voltaram às ruas da capital munidos de bandeiras da Ucrânia e da União Europeia. Ianukovich, acusam, está a vender o país à Rússia. Desde terça-feira que a oposição exigia saber o que é que o Presidente tinha prometido a Putin em troca da ajuda e da diminuição do preço do gás.
Ianukovich também defendeu que o acordo com Moscovo não trava o caminho da Ucrânia em direcção à integração europeia. O cancelamento da assinatura do acordo, explicara na altura, é uma medida temporária. Mas nesta quinta-feira, também avisou os países ocidentais contra quaisquer “ingerências” na crise política do seu país.
“É muito importante que não haja ingerência nos nossos assuntos estrangeiros”, disse. Vários responsáveis, incluindo o ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Guido Westerwelle, e a secretária de Estado adjunta americana, Victoria Nuland”, estiveram junto dos manifestantes em Kiev. “Estou categoricamente contra os que vêm ao nosso país para nos dar lições.”
O Presidente que em 2004 se viu obrigado a ir de novo a votos – e perdeu – depois de umas eleições marcadas por fraude, que foi finalmente eleito em 2010 e que quer ser reeleito em 2015, denunciou ainda as “tentativas anticonstitucionais de tomada do poder” pela oposição. “Estou categoricamente contra os políticos que lançam a revolução. Esperem pelas eleições, o povo vai exprimir a sua opinião.”