Jornalista moçambicano assassinado em Maputo
Chegou a ser noticiado que estaria envolvido na organização de um protesto contra o julgamento do economista Carlos Nuno Castel-Branco e do jornalista Fernando Mbanze, mas a informação foi desmentida ao PÚBLICO.
“Ele foi morto entre as 5h30 e as 6h00, quando se preparava para ir para o jornal”, disse à agência AFP o sobrinho, Fernando Machava.
Paulo Machava, director do jornal electrónico Diário de Notícias, foi assassinado com quatro tiros, dois na cabeça e dois nas costas, na esquina entre as avenidas Vladimir Lenine e Agostinho Neto. Segundo testemunhos recolhidos pelo jornal A Verdade “os criminosos nem saíram da viatura, afrouxaram e deram os tiros, depois continuaram sem sequer acelerar muito”.
Vendedores ambulantes ouvidos pela AFP confirmaram que o jornalista foi abatido por homens armados, que dispararam do interior de uma carrinha. Seguranças que trabalham nas imediações do local do assassínio disseram à agência noticiosa moçambicana AIM que a vítima foi alvejada por tiros de espingarda automática AK-47. “Eles são profissionais”, comentou um deles.
Paulo Machava era um jornalista experiente. Começou a trabalhar nos anos 1980, na Rádio Moçambique, onde se destacou no programa Onda Matinal, sobre crime. Mais tarde trabalhou no semanário independente Savana, onde chegou a ser chefe de redacção. Depois de uma breve passagem pelo semanário Zambeze, fundou a empresa editora do semanário Embondeiro e o Diário de Notícias.
Nos últimos anos, em paralelo com o jornalismo, fazia assessoria na área de eventos de uma residencial de Maputo, a Kaya Kwanga – outras informações apresentam-no como gerente do empreendimento. O jornal Canal de Mçambique escreveu que já não exercia o jornalismo a tempo inteiro.
Chegou a ser noticiado que Machava estaria envolvido na organização de um protesto, previsto para a próxima segunda-feira, contra o julgamento, que nesse dia se inicia, do economista Carlos Nuno Castel-Branco e do jornalista Fernando Mbanze, pela publicação, em 2013, de um texto crítico da governação do então Presidente, Armando Guebuza. Mas a informação foi desmentida ao PÚBLICO.
“Não é verdade. É uma triste coincidência. O Paulo Machava estava muito distante da organização de qualquer manifestação”, disse Fernando Mbanze, que não associa o assassinato à actividade jornalística. “Na publicação que dirigia, ele não escreveu recentemente nada que pudesse incomodar alguém.”
No julgamento de segunda-feira, Castel-Branco, autor do texto, publicado inicialmente no Facebook, é acusado de crime contra a segurança do Estado, por alegada difamação e calúnia. Mbanze, que o reproduziu no jornal que edita, o MediaFax, responde por abuso de liberdade de imprensa. Incorrem em penas mínimas de um ano até dois anos de prisão e multa. O Canal de Moçambique também publicou o texto mas o seu director, Fernando Veloso, não foi ainda convocado por estar fora do país, por motivos de saúde.