Itália em greve geral contra as reformas laborais de Matteo Renzi
A nova legislação, denunciam os sindicatos, vai criar uma nova geração de trabalhadores precários.
A greve foi marcada por três centrais sindicais, a CGIL (esquerda, a maior do país), a UGL (direita) e a UIL (independente). Há quem diga que este protesto é, em primeiro lugar, simbólico, uma vez que a legislação que flexibiliza as leis, tornando mais fácil despedir e menos obrigatória a vinculação de um funcionário a uma empresa, já foi aprovada pelo Parlamento.
Em causa está, antes de mais, o artigo artigo 18.º da Lei do Emprego, que protege os trabalhadores de médias empresas (com mais de 15 funcionários) de serem despedidos. Os críticos dizem que a lei, como estava, levava os empregadores a não contratarem mais gente, receando não poder depois dispensá-los. Agora que a lei foi aprovada, surgem outras críticas — as alterações vão criar empregados de primeira e segunda, com os mais antigos a verem os seus postos de trabalho assegurados e os novos a serem submetidos a contratos precários. A taxa de desemprego entre o grupo 15-25 anos é de 47% no país.
O Governo argumentou que as alterações eram essenciais no processo de relançamento da economia, estagnada há vários anos. E Renzi disse que não vai alterar o rumo das reformas, sendo que até ao fim do ano terá de fazer aprovar o orçamento e, em Janeiro, tem outras reformas sensíveis para aprovar — entre elas a supressão do Senado e a alteração da lei eleitoral.
Desde que chegou à chefia do Governo, em Fevereiro deste ano, que Matteo Renzi está em guerra com os sindicatos; outra das suas reformas visa enfraquecer o papel destes. Acabou com a concertação social e com a tradição de os representantes dos sectores do trabalho serem chamados à discussão das leis. Por isso, e pelas medidas que anunciou, o primeiro-ministro - o primeiro de esquerda a enfrentar uma greve geral - enfrentou greves parciais em Outubro e Novembro.
"O Governo comete o erro de eliminar a discussão e a participação" dos sindicatos, disse Susanna Camusso, secretária-geral da CGIL. "O Governo tem de escolher entre o conflito e o diálogo", acrecentou. "Hoje paramos a Itália para o fazer regressar ao bom caminho", disse o líder da UIL, Carmelo Barbagallo.
A acompanhar a greve, os sindicatos marcaram manifestações em 51 cidades. Renzi não as viu, está na Turquia a participar num fórum financeiro, mas, antes de partir, falou: "A greve geral é um momento de contestação de grande importância. Tenho muito respeito por ela, ainda que não partilhe os seus motivos. Bom trabalho a quem decidir trabalhar e boa sorte aos que fizerem greve." Palavras que a imprensa italiana entendeu como uma mudança de atitude por parte do primeiro-ministro, que parece agora ter um tom mais conciliatório para com os sindicatos. Em Outubro e Novembro, Renzi dissera: "O tempo em que uma greve bloqueava um governo e um pais já passou", "Se os sindicatos querem negociar, então façam-se eleger para o Parlamento".
"Assim não pode ser. Temos propostas concretas para mudar a Itália", disseram os representantes sindicais na manifestação em Roma, apelando ao primeiro-ministro para um regresso à concertação social. A greve serve também de protesto contra a proposta de orçamento do Governo.
Em algumas das manifestações estava prevista a participação de membros da força política de Renzi, o Partido Democrático, onde as propostas do primeiro-ministro e a reforma das leis do trabalho não são consensuais e onde se questiona se o posicionamento de Renzi, demasiado alinhado com as exigências de Bruxelas, não irão, a médio prazo, alienar o eleitorado tradicional da esquerda. Massimo D'Alema tentou participar no protesto de Bari, mas os manifestantes receberam-no com gritos de "palhaço ladrão".